Alguém entende James Joyce?

James Joyce, Sylvia Beach e Adrienne Monnier na livraria Shakespeare and Company

Se hoje Joyce leva a fama de escritor difícil e incompreensível, talvez a culpa não seja exatamente dele. Ou melhor, se Joyce é um escritor difícil e incompreensível, a culpa talvez não seja de sua criatividade, a culpa talvez seja, pelo menos em parte, de sua caligrafia. Exagero? Não, exagero nenhum: sua letra era tão complicada – à beira do garrancho ininteligível – que a produção de Ulisses (1922) chegou a ser interrompida porque ninguém conseguia datilografar o manuscrito do capítulo 15, o episódio de Circe, quando Stephen e Leopold Bloom deliram no bordel de Bella Cohen.

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O que havia em Viena no final do século XIX?

Viena em 1890 - Divulgação

Há tempos, pesquisadores se esforçam em descobrir o que pode levar uma cidade a reunir, em determinado período da história, um número fora do comum de pessoas às voltas com a criação artística – e, mais do que isso, transformando a arte. Viena, a capital austríaca, é um destes objetos de estudo: nos últimos anos do século XIX, caminhavam pelas mesmas ruas os responsáveis por modificar a pintura, a arquitetura, a música e a literatura, e de levar adiante os conhecimentos da psicanálise.

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O Senhor das Moscas pode ser lido em dó menor?

Presença da literatura na música pop? Nenhuma novidade. Bulgákov influenciou uma das músicas mais famosas dos Rolling Stones, Sympathy for the Devil. Bowie escreveu uma música chamada 1984. O Velvet Underground eternizou Sacher-Masoch em Venus in Furs. Hemingway inspirou o Metallica a lançar uma música também chamada Por Quem os Sinos Dobram. Tolkien e seus hobbits fazem a festa no quarto álbum do Led Zeppelin. Salvo engano, no entanto, um dos autores mais citados pelos músicos, ao mesmo tempo em que é um dos escritores mais esquecidos pelas listas que compilam a relação entre as duas artes, é ninguém menos que um ganhador do Nobel: William Golding.

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Meninos de engenho jogam futebol?

Capa do livro Menino de Engenho, de José Lins do Rego

Se hoje as lideranças do futebol brasileiro estão enroscadas em denúncias e mais denúncias de corrupção, inclusive com um dos ex-presidentes da confederação brasileira preso por uma operação da polícia federal norte-americana, o passado reserva, pelo menos, um nome mais ilustre entre as fileiras de dirigentes: José Lins do Rego. Pois é, o escritor paraibano de Menino de Engenho (1932) e Bangüê (1934), era verdadeiro fanático pelo ludopédio e chegou a ser cartola do rubro-negro carioca, depois de se mudar a trabalho para o Rio de Janeiro.

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Quem ainda vai ler Margareth Atwood?

Nada de tablet, smartphone, realidade aumentada ou pixel: o que os usuários da nova biblioteca pública de Deichmanske, em Oslo, Noruega, vão ler em 2114 será mesmo o bom e velho livro. Quer dizer, não exatamente. Os livros disponíveis para os visitantes não serão os títulos impressos hoje, lidos e comentados por todo mundo, preservados sob algum tipo de criogenia. Os livros disponíveis até estão sendo escritos hoje, mas vão ser guardados em ambientes confinados e somente serão lidos de fato daqui a 100 anos.

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Por que Mario Arregui escreveu poucas páginas?

Há diversas justificativas para os escritores que, na mais radical das contradições do ofício, optam por não escrever. O catalão Enrique Vila-Matas se ocupou de alguns dos motivos em Bartleby e companhia. O narrador do romance, um escritor que não escreve, percorre explicações reais (o caso de Rimbaud, por exemplo, que abandonou a escritura para viver uma vida de experiências drásticas) e outras mais contestáveis (como o mexicano Juan Rulfo, que justificativa o seu silêncio na literatura com a morte do tio, exímio contador de histórias).

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Que literatura pode surgir da internet?

Kenneth Goldsmith em apresentação na Casa Branca

A pergunta do título, na verdade, diante de tantas respostas possíveis, é insolúvel: o importante é a questão, o modo como ela ressignifica a rede mundial de computadores enquanto lugar de formação da criatividade. Quero dizer: que literatura pode surgir da internet? Milhares. Escritores assistindo três horas de pornô podem usar os vídeos como base para uma coletânea de contos eróticos. Tuítes de celebridades podem se transformar em poesia dadaísta. Reportagens, artigos políticos podem se tornar o núcleo de um livro de espionagem.

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Que literatura há nas mesas do Café Brasilero?

Crédito: Carolina Oliveira

Rua Ituzaingó, 1147, a poucos metros da Plaza Matriz. Ciudad Vieja, Montevideo, Uruguai, o sul do sul do continente. As coordenadas geográficas levam a um salão à meia-luz em que dez mesas de madeira esperam pelos frequentadores. Ao fundo, o espelho do balcão revela, tal como os vidros da porta de entrada, o nome e a data de inauguração do lugar: estamos no Café Brasilero, fundado em 1877.

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