Ser Reginaldo Pujol Filho (em 2013)

Em Quero ser Reginaldo Pujol Filho (2010), dez narrativas recriam a voz de ícones literários, como Miguel de Cervantes e Machado de Assis – e também Ítalo Calvino, Luís Fernando Veríssimo, Amilcar Bettega, Altair Martins… Depois de publicar Azar do personagem e organizar a antologia Desacordo ortográfico (2007 e 2009), Reginaldo Pujol Filho dedicou o segundo livro de contos a se contaminar expressamente dos autores admirados para propor leituras (e escrituras) próprias. Em 2013, ele finaliza o primeiro romance, provisoriamente chamado de O livro acaba aqui. Para o autor, a experiência resultou totalmente diferente do processo de escrita de contos, que por vezes exige ao escritor que se afaste do livro entre um conto e outro, “para não escrever sempre o mesmo”. Ao trabalhar no romance, lembrou-se do que aprendeu com Charles Kiefer: escrever coisas pela metade e depois continuar é como pintar uma parede, se pintar metade hoje e metade semana que vem, a marca vai ficar visível. “Então me senti obrigado a continuar e continuar com uma rotina de bater-ponto (mas sem salário) até encontrar um primeiro ponto final”.

Para viver mais perto da literatura, Reginaldo Pujol entrou este ano no mestrado em Escrita Criativa na PUCRS. A vivência em Portugal, onde fez a pós-graduação em Artes da Escrita pela Universidade Nova de Lisboa, deixou gosto de quero mais. Conviver com a teoria, diz ele, é bom para botar em cheque o que se está fazendo. “Ou o contrário, pode me desafiar a questionar pela prática o que está posto na teoria”. Para falar de seu trabalho e sua formação, ele estará na programação da Festiva – I Festa da Escrita Criativa, no dia 02 de setembro, na sala 305 da Faculdade de Letras da PUCRS (entrada franca). Sobre o último livro de Pujol, um gostinho:

Você finalizou o seu primeiro romance agora, no meio de 2013. Que diferença sentiu, no processo de escrever contos e escrever o romance, que te surpreendeu?

R: É sempre difícil falar que se finalizou um livro, enquanto ele não está impresso e na prateleira de uma livraria. Agora, no começo de agosto, terminei mais uma revisão dessa narrativa e coloquei de lado, passei a alguns leitores (desde 2011, só duas pessoas leram isso, eu e minha namorada), porque preciso me afastar um pouco desse livro, ter visões externas, ver se faz sentido fora de casa. Mas, no dia seguinte a este ponto quem sabe final, em uma aula do mestrado vi um professor fazer um gesto e já comecei a revisar o livro mentalmente (tenho um personagem que é professor). E aí chegamos numa diferença fundamental, pra mim, na escrita de coisas longas e na reunião de coisas pequenas. Ou romance e conto. É até um lugar comum, mas as coisas só viram lugar comum porque são verdade, ou tem um pé na verdade, e nesse caso o clichê é a obsessão com o livro. Que eu achava que eu não ia enfrentar, que eu era imune a isso, que era romantismo. Mas, falando no meu caso específico, que me preocupo demais com a construção dos meus narradores, com a voz do livro, percebi (com certo pânico), depois do primeiro dia de escrita, que eu precisaria ter contato diário com o livro pra não perder a voz, não misturá-la, não transformá-la ao longo da escrita. Me ocorre que a escrita longa talvez possa ser comparada com a aprendizagem de um novo idioma. Vamos descobrindo uma nova língua e, a medida em que a praticamos diariamente, ela nos sai natural, fluída, pensamos nesse idioma. Mas, se voltamos ao nosso idioma cotidiano, nos afastamos dessa língua nova (seja o turco ou o romancês), quando tentamos falar novamente esse idioma, ele sai duro, sem espontaneidade, não desaprendemos propriamente, mas perdemos a fluidez. Talvez seja isso.

Autoria: Moema Vilela
Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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