Você sabe como alma de André Breton andou pelo Brasil num caminhão de mudanças?

André Breton foi fundador do Surrealismo, movimento nascido na França no início dos anos 1920, o qual teve forte expressão nas artes plásticas, no cinema no teatro e na literatura.

A poesia brasileira dos anos 60 contou com um forte grupo de aliados ao Surrealismo.

Nesse fértil período da produção surrealista no Brasil, um grupo de poetas: Cláudio Willer, Rodrigo de Haro, Roberto Bicelli, Sérgio Lima, Antonio Fernando de Franceschi e Roberto Piva – amigos que costumavam se reunir para ler e debater poesia – provocou uma releitura do Modernismo e a reafirmação do Surrealismo nas rodas literárias brasileiras.

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Formando um pequeno e coeso grupo, os poetas surrealistas brasileiros reuniam-se em torno das ideias de Breton e sua busca pela afinação entre arte e política; a exploração da força criativa do subconsciente, eliminando censuras; a livre associação de pensamentos e a exploração dos sonhos. Esta adesão à proposta de Breton, nos anos 60, passa, sem dúvida, pelo acontecimento histórico da visita do grande poeta brasileiro Murilo Mendes ao poeta em Paris, em 1953, e ao convite feito pelo próprio Breton ao poeta e pintor Sérgio Lima, para tomar parte no movimento Surrealista enquanto estava na França em 1961.

André Breton era uma figura polêmica, controvertida e atribui-se a ele uma série de frases de grande efeito. Conta-se que costumava dizer aos amigos: “Quando eu morrer, levem-me para o cemitério num caminhão de mudanças”.

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Um fato curioso marca os encontros do grupo de poetas brasileiros,em uma de suas passagens pelo Rio de Janeiro:

Roberto Piva (1937-2010) costumava narrar, que numa tarde de 1966, por volta das 4 ou 5h da tarde, o grupo caminhava pela avenida Rio Branco, “naquela ponte que vai para a Casa Verde”, quando passou um caminhão de mudanças tendo um guarda roupas amarrado na carroceria. Uma das portas do armário se abrira e dela saía um enorme lençol branco, esvoaçante, que tomava quase toda a carroceria do caminhão. Ao ver a cena, Roberto Bicelli gritou: “Olha lá a alma do André Breton!”

No dia seguinte a este acontecimento, o poeta Roberto Piva leu no Jornal Estado de São Paulo a nota de falecimento: “Faleceu ontem, às 16horas e 30minutos, horário de Brasília, o poeta francês André Breton”.

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