Por onde anda Pynchon?

Ninguém sabe, ninguém viu. Esse ditado pode ser clichê – soa até como título para música do Ultraje a Rigor –, mas, no caso de Thomas Pynchon, é uma verdade atroz: recluso há décadas, o escritor norte-americano se tornou o maior enigma da literatura mundial, um quebra-cabeça infinito. Ninguém conhece o seu rosto hoje, se ele está bem de saúde ou não, seu paradeiro atual é desconhecido, há quem garanta que ele já morreu.

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Quantos negócios Simões Lopes Neto viu naufragar?

Recorte de um anúncio da Livraria do Globo na revista Província de São Pedro

Autor de Contos gauchescos e Lendas do sul, os dois livros que acabaram por consolidar o que pode ser chamado de regionalismo gaúcho, Simões Lopes Neto não pôde se dedicar por inteiro à literatura. As histórias de Blau Nunes, hoje lidas e estudadas com atenção no Brasil, só alcançaram sucesso póstumo. Durante a vida, Simões Lopes Neto se dedicou ao jornalismo e a empreendimentos que desmoronavam em sequência.

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Hemingway e Faulkner já trabalharam juntos?

Uma Aventura na Martinica (1944), filme de Howard Hawks

Sobre Hemingway, Faulkner uma vez disse (em tradução livre): “ele nunca foi conhecido por usar uma palavra que fizesse o leitor procurar um dicionário”. Hemingway, por sua vez, respondeu no mesmo tom desaforado: “Pobre Faulkner, ele realmente pensa que grandes emoções vêm de palavras grandes?”. De fato, os dois não se gostavam nem um pouco – a rivalidade, por exemplo, está documentada no livro Faulkner and Hemingway: biography of a literary rivalry, de Joseph Fruscione –, mas Hollywood, essa apaziguadora de ânimos em nome da arte, fez com que eles enfim “trabalhassem juntos”.

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Quem foi a Nadja de André Breton?

Trecho da obra de André Breton. Reprodução

O ano é o de 1962, estamos no outono. Nos arredores da Opéra de Paris, pobremente vestida, uma mulher caminha sem rumo certo: “Vai de cabeça erguida, ao contrário de todos os passantes. Tão frágil que mal toca o solo ao pisar. Um sorriso imperceptível erra talvez em seu rosto”. Este é o primeiro encontro de André Breton, o personagem-narrador-autor de Nadja (1928), com a mulher que empresta o nome ao livro. Os encontros se repetirão, entre a casualidade e a necessidade, por cerca de dez dias.

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Kerouac casou por encomenda?

Jack Kerouac por Tom Palumbo, década de 1950

Sim, sim, sim, é possível dizer que Jack Kerouac casou por encomenda: os “loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos”, os beats, como ele escreveu em On The Road (tradução de Eduardo Bueno), podem até ter queimado em “fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante […] pode-se ver um brilho azul e intenso”, mas, enquanto inflamavam a literatura norte-americana em meados do século XX, eles também se envolveram em arranjos sociais quase oitocentistas pelos motivos mais estapafúrdios. No caso do escritor de origem franco-canadense, por exemplo, o matrimônio serviu para livrá-lo da prisão.

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A contracapa da Coyote

A contracapa da Coyote

Além da tristeza de nunca ter me aceito entre os seus mais de 340 colaboradores (o número é de 2012), a revista literária Coyote me deu muitas alegrias. Surgida em 2002 e, até onde sei, ainda resistindo – em 2014 foram lançados dois números –, a Coyote publica de escritores a fotógrafos, de artistas gráficos a tradutores e ensaístas. A idéia dos escritores e jornalistas Rodrigo Garcia Lopes, Marcos Losnak e Ademir Assunção, que a editam em Londrina (PR), é publicar apenas material inédito. Na contracapa há sempre um cartum, assinado pelo Beto, de quem não sei quase nada, só que nasceu em Londrina. Mas pouco saber dele não me impede de gostar do seu trabalho.

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O conselho que Susan Sontag não seguiu

Susan Sontag

Susan Sontag (1933-2004) sempre foi prodígio. Mostrou desde cedo intimidade com as Letras, o que prenunciava uma autora de ensaios, romances, críticas de arte e textos sobre política. Sontag foi tema de reportagem na mais recente edição da Revista E, publicada pelo Sesc. Ali se conta que ela concluiu o ensino médio com 15 anos, três anos antes da que costuma acontecer com os alunos nos EUA. Na época, o diretor da escola disse que ela deveria tentar a universidade, mesmo com a pouca idade. A mãe de Susan Sontag, porém, aconselhou a filha a parar de ler, pois se continuasse daquele jeito jamais se casaria.

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O que Michael Cunningham tem a dizer sobre Escrita Criativa

Michael Cunningham

Autor de, entre outros, Uma casa no fim do mundo (1990), Laços de sangue (1995) e As horas (1998) – no qual transforma Virginia Woolf em personagem e pelo qual recebeu os prêmios Pulitzer e o PEN/Faulkner –, Michael Cunningham estudou criação literária e depois foi professor em programas de Master em Fine Arts nos Estados Unidos. Numa entrevista, de março de 2002, publicada na Revista Cult, o autor fala sobre essa experiência:

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