Satolep (Pelotas ao contrário) é um local que o músico, compositor e escritor Vitor Ramil recorrentemente cita em sua obra musical e literária. Ao mesmo tempo real e imaginária, a cidade, claramente inspirada em Pelotas, localizada no Sul do Rio Grande do Sul, conforma-se a partir do filtro da memória e da imaginação, numa recriação perpétua, em que a ficção e a poesia, muitas vezes, suplantam a realidade e universalizam o particular. Vitor Ramil afirmou, em uma entrevista recente, que Satolep é a sua Macondo, numa referência à cidade-símbolo da obra de Gabriel García Márquez. Não à-toa, nas suas duas mais recentes obras – o disco Satolep sambatown, em parceira com Marcos Suzano (2007), e o romance Satolep (2008), o anagrama com o nome da cidade sulina comparece nos títulos. Músico dos mais criativos da música brasileira – passeando pelo intimismo, pela milonga, pela MPB, pelo tango, pelo experimentalismo – Vitor Ramil nasceu em 7 de abril 1962, exatamente em Pelotas, cidade onde atualmente mora, depois de passar alguns anos no Rio de Janeiro. Em 2009, o músico, devido ao conjunto de sua obra (oito discos, dois romances e um ensaio, “A estética do frio”), foi escolhido o patrono da 36ª Feira do Livro da Praia do Cassino, em Rio Grande, que ocorre até o dia 8 de fevereiro e que tem como tema a “Cultura sem fronteiras”.
“Ponto” era um profissional do teatro responsável por “assoprar”, em voz baixa, as falas que deviam ser repetidas, em voz alta, pelos atores. Na imagem, é possível visualizar a localização do ponto, instalado num alçapão situado no centro-baixo do palco. Note-se que ele se encontra escondido por uma proteção curva, planejada para projetar o som de sua voz, sussurrada, para o fundo da cena. A vantagem desse recurso era que os atores não precisavam decorar todo o texto e mesmo que o decorassem, o ponto os socorria em caso de perda súbita da memória. Embora a estratégia não seja mais utilizada no teatro, a tecnologia permitiria, aos dias de hoje, que o ponto fosse substituído por equipamentos eletrônicos, à semelhança do que ocorre em programas de televisão, em que o diretor, muitas vezes, conduz a fala dos apresentadores.
A assertiva é dita por uma das personagens da peça de teatro Huis clos (Entre quatro paredes, na tradução brasileira), do francês Jean-Paul Sartre, escrita em 1945. Nela, duas mulheres e um homem encontram-se no inferno, condenados a permanecer para sempre juntos, “entre quatro paredes”. Em uma entrevista, o dramaturgo e filósofo contou que a inspiração para a criação do texto surgiu de uma situação real: ele resolveu escrever uma peça para três amigos seus, atores, mas não queria que nenhum personagem tivesse mais destaque do que o outro. Então pensou: “Como mantê-los sempre juntos em cena?”, indagação que trouxe a idéia de colocá-los presos no inferno, de modo que cada uma das figuras cênicas agisse como carrasco das outras duas. Ao trazer a célebre expressão, a peça sartriana pondera que o outro, na verdade, é fundamental para o conhecimento de si mesmo. Isto é, o ser humano necessita relacionar-se com o outro para construir a sua identidade, processo nem sempre tranqüilo e harmonioso.