Recuperar o perdido

Sala de leitura da Biblioteca Nacional. Foto: Divulgação.

Em Os livros e os dias, o escritor argentino Alberto Manguel leva a cabo uma tarefa de duas vias: reler doze livros que, por distintos motivos, marcaram a sua formação como leitor e escritor, e escrever sobre cada um deles, em meio aos fatos da vida privada e ao que acontece no mundo. Organizado em formato de diário, no qual os temas se sobrepõem sem rigor, Os livros e os dias carrega consigo as impressões do tempo presente e as recordações da primeira leitura de cada um dos textos.
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Zugzwang

Rodolfo Walsh estava num café de La Plata, às voltas com um tabuleiro de xadrez e um copo de cerveja, quando ouviu falar pela primeira vez sobre o caso dos fuzilamentos clandestinos que narraria depois em Operação Massacre. No prólogo definitivo do livro, reescrito algumas vezes, Walsh escreve que a partir desse momento deixou os bispos e as torres de lado para aventurar-se na “vida real”, e também no relato de não-ficção. Se é certo que com o jornalismo Rodolfo Walsh construiu outra consciência política (combativa e indignada, a serviço dos trabalhadores organizados e dos que não encontravam espaço na Justiça), não se pode dizer que depois daquela noite de La Plata, em que o xeque-mate e o gole foram interrompidos bruscamente, Walsh tenha abandonado o jogo de xadrez e o que ele representa para a sua literatura – tão ou mais poderosa do que puderam ser os seus textos políticos e jornalísticos.
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A finitude e a biblioteca

É comum, quando se discute sobre a leitura e a busca de informações na internet, nos depararmos com a ideia de que estamos diante do espaço infinito. Os hiperlinks e os verbetes fazem da pesquisa uma rede de conexões sem início e sem final; o crescimento da capacidade de armazenamento faz com que o limite para o acúmulo de dados se amplie continuamente; a pluralidade de fontes e referências faz com que não haja tema ou questão que ainda não tenha sido tocada.

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Um achado andaluz na Praça da Alfândega

A edição de 1961 de García Lorca

Sim, a Feira do Livro de Porto Alegre, como qualquer evento semelhante, pode apresentar ao transeunte umas quantas imagens repetidas: os livros em destaque nas bancas são praticamente os mesmos e não devem surpreender o caminhante que, durante o ano, já frequenta as livrarias. Mas, como escreveu Walter Benjamin, para se conhecer de verdade uma praça é preciso percorrê-la em todas as suas direções. E, em tempos de Feira, a Praça da Alfândega também exibe os seus objetos inesperados.

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Qual é a voz de meu escritor favorito?

AVISO: a postagem a seguir – em parte adaptado do site Mental Floss – vai matar a curiosidade de muitos e estragar a imaginação de alguns. São 07 + 01 gravações raras de escritores famosos, captadas em diversas situações, como shows de TV e entrevistas de rádio. Nem todos estão sóbrios – Hemingway, claro. E, nesta lista, selecionamos apenas os estrangeiros, deixando os brasileiros para uma segunda ocasião.

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A máquina que expele livros

Gauchos y anarquistas, um dos títulos da coleção

A ideia surgiu por conta dos festejos do Bicentenário da República Argentina, em 2010, e prosseguiu pelos anos seguintes: na Biblioteca Nacional, uma máquina, ao estilo dos antigos aparelhos que ofereciam cigarros ao custo de algumas moedas, desta vez ofertava livros. Edições do tamanho de pacotes de cigarros saltavam para as mãos do leitor quando em contato com o cobre das moedas de peso argentino: de livros clássicos da literatura argentina a textos contemporâneos da América Latina.

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