A testemunha, e o testemunho, de Ernesto Sabato

Estou a percorrer os corredores da biblioteca (3º pavimento; Área D; Estante 39) quando o Ernesto Sabato me olha. O fantasma do Ernesto Sabato. Ele está num escritório em preto e branco, com mesa de tampo de vidro, daqueles tampos nos quais por baixo se colocam papéis importantes, fotos da mulher amada, o escudo do time. O sol entra pela janela, a luz solar é perceptível, reflete quadriculada, em quadrados grandes, na parede. Lá fora está Buenos Aires, imagino. Um telefone antigo, de discar. Um cinzeiro. Ali é o escritório do escritor, eu sei, dá pra sentir. Na parede, um calendário, talvez 1956, fotos, um diploma provavelmente. E uma placa com alguns dizeres impossíveis de ler.

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Três volumes de Antonio Cicero

Antonio Cicero, poeta e ensaísta, começou a ter a arte reconhecida através da voz de músicos. Nascido no Rio de Janeiro e formado em filosofia na Universidade de Londres, Cicero teve a primeira canção musicada pela irmã, Marina Lima, no final dos anos 1970. De “Canção da alma caiada” em diante, as muitas parcerias com Marina Lima fizeram de Cicero um letrista consagrado, convidado para trabalhos com músicos do quilate de João Bosco e Adriana Calcanhoto.

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O Altair, o Tezza, o Ruffato e eu

Em 2011, no meu segundo ano em Porto Alegre, fui colega do Altair Martins numa disciplina do mestrado da PUC. Colega modo de dizer. Para mim o Altair era uma ave que se sustentava no ar, com as asas abertas, sem que parecesse agitá-las. Eu o olhava, escutava com atenção as suas intervenções, mas nem no intervalo interagia com ele. Afinal, vim para Porto Alegre cursar uma oficina literária (fui ficando) e o Altair, pouco mais velho do que eu, já era professor de oficinas, além dos prêmios…

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