Elas estão presentes, na maior parte das vezes, nas prateleiras dos sebos. Se discretas, podem ser invisíveis para os clientes que folheiam um exemplar sem tanto esmero, e então só notadas quando se chega em casa. Podem expressar um carinho contido (“Para o Miguel, com um abraço forte”), um amor que não chegou a ser (“Para Marina, esperançoso de que ao menos aceite este livro”), uma saudade aguda (“Que este romance chegue até ti e diminua por um momento a maldade da distância, do tempo e do oceano”).
Dizem por aí que uma das maiores honras possíveis para um escritor é que o seu nome se transforme em um adjetivo: kafkiano, masoquista, balzaquiana, sádico, etc., etc., etc. E é mesmo uma honra? Sim, claro. Mas poucos alcançaram o prestígio pós-morte de Herman Melville – autor de Moby Dick, Bartleby, o escrivão e Billy Budd, apenas para citar os principais títulos –, o que é uma fina ironia, já que, em vida, o autor não conseguiu prestígio algum.
O que se altera é o gesto, o que se faz com ela, mas o fato é que, quando o céu está assim, como nos últimos vários dias em Porto Alegre, fica impossível manter-se alheio à chuva. Para além das conversas de elevador e das toalhas sempre por secar, a água alaga as ruas e os ânimos; pode convidar à reflexão ou abrir estrada para a melancolia.
Sartre, em delírio, sendo perseguido por uma lagosta gigante. Essa imagem, claro, é improvável, impensável, inacreditável, mas, aparentemente, aconteceu por quase um ano inteiro, depois de uma experiência alucinógena dar bastante errada para o filósofo existencialista.
“Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos e eu amo você mais do que nunca.” Assim começa Carta a D., o último livro de André Gorz, endereçado a Dorine, sua companheira de toda a vida.
Por um motivo qualquer, geralmente amoroso, dois homens se enfrentam em um terreno ermo. Os dois empunham armas ou facas ou espadas. Um quer a morte do outro, um quer provocar a desonra do outro. Um duelo! A cena é clássica, bem comum em livros de cavalaria e filmes de bang-bang, mas, por incrível que pareça, situação semelhante aconteceu envolvendo dois dos principais escritores brasileiros no início da república tupiniquim.
Todos os dias, muros, paredes e fachadas são pintados nas grandes cidades do mundo, numa tensão permanente entre propriedade privada e insubmissão, cultura letrada e expressão das ruas. A pichação, que move debates extremamente atuais na América Latina, remonta, no entanto, a quase quinhentos anos atrás.
Entre todas as características excêntricas de Hemingway, existe uma que é, provavelmente, bem pouco conhecida, e que aliás pouco combina com a persona macho do norte-americano: o escritor de Por Quem os Sinos Dobram e Adeus às Armas era fanático por gatos – ele chegou a ter 57 felinos na sua casa em Cuba. O primeiro, carinhosamente chamado de “bola de neve”, foi um presente do capitão de um navio e tinha seis dedos, o que acabou sendo herdado por muitos de seus descendentes, contados hoje na casa das centenas.