Você conhece o segredo de Biela?

Autran Dourado (1926-2012), escritor mineiro falecido no último setembro, não foi econômico ao falar sobre sua ars poética. Escreveu ensaios, biografias, manual de estilística e ainda abordou a própria formação como escritor no romance Um artista aprendiz. Pelo resultado desse trabalho de artesão, sua obra ganhou, entre outros, o Prêmio Machado de Assis (2008), da Academia Brasileira de Letras; o Prêmio Camões (2000), o Jabuti e o Goethe de Literatura do Brasil por As imaginações pecaminosas (1981), sem contar a inclusão do romance Ópera dos Mortos (1967) entre as obras representativas da literatura universal, em seleção da Unesco.

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Uma tradução dolorosa

Em 2011, a escritora e jornalista Vanessa Barbara, autora, dentre outros, O Livro Amarelo do Terminal (Cosac Naify, 2008) – pelo qual ganhou o Jabuti de melhor livro-reportagem -, foi incumbida de traduzir O grande Gatsby (Companhia das Letras,2011). Uma missão a princípio gloriosa. O romance de F. Scott Fitzgerald foi recebido com entusiasmo ao ser publicado, em 1925, e desde então tem se mostrado perene. Dar-lhe uma nova versão em português tomou cinco meses da vida de Vanessa. Suas recordações do período não são das melhores.

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Jane Austen pode ter morrido envenenada?

As circunstâncias pouco claras em torno da morte de Jane Austen (1775-1817), aos 41 anos, levantaram uma suspeita curiosa, no ano passado. Especialistas nunca puderam determinar com precisão a causa da morte da escritora, mas as hipóteses de linfoma ou doença de Addison foram probabilidades levantadas pelos biógrafos por muito tempo. Em 2011, a autora de romances policiais Lindsay Ashford se mudou para a cidade de Jane Austen para escrever um novo livro. Depois de investigar as cartas da autora de Orgulho e Preconceito, encontrou trechos que considerou suspeitos, escritos nos últimos anos de sua vida. A partir de descrições do estado de saúde de Austen, Lindsay Ashford, versada em descrever mortes e crimes na ficção, reconheceu sintomas de envenenamento por arsênico. No encalço dessa pista, verificou um fio de cabelo da romancista inglesa, no qual os testes para arsênico deram positivo.

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Você já imaginou ver os Contos Gauchescos na tela do cinema?

Em 2012, comemora-se o centenário dos Contos Gauchescos, obra literária obrigatória nas escolas e universidades do sul, ícone do regionalismo que muito contribuiu para consolidar uma imagem da identidade cultural gaúcha. Aos cem anos dos contos escritos por João Simões Lopes Neto, o livro ganha adaptação cinematográfica nas mãos de Henrique Freitas Lima e da produtora Cinematográfica Pampeana.

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Quem toparia publicar Ulisses?

Em 1921, num dos chás literários da hoje mítica livraria parisiense Shakespeare and Company, um escritor irlandês foi apresentado à proprietária: “Ora se não é o grande James Joyce”, disse Sylvia Beach. Ela tinha fundado a livraria dois anos antes, para divulgar a literatura de língua inglesa, e era fã de Joyce desde que lera Retrato de um artista quando jovem.

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Você já ouviu falar em livro que não pode esperar pra ser lido?

A editora e livraria independente Eterna Cadencia, da Argentina, acaba de lançar um livro que não pode ficar na estante por muito tempo: em dois meses, a tinta usada na impressão desaparece. O processo é desencadeado a partir do momento em que o leitor abre o pacote e o livro entra em contato com o ar e o sol. O objetivo é chamar a atenção para autores contemporâneos, que teriam dificuldade de ver sua produção consumida em curto prazo. Por isso, a primeira edição de El libro que no puede esperar é uma coletânea de jovens autores latino-americanos, e será seguida por outros volumes também de produção contemporânea.

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E mulher pode escrever livro assim?

Quando Raquel de Queiroz tinha cinco anos, foi testemunha de uma das secas mais fortes que se tem lembrança no Ceará. Aos 19, começou a escrever um romance que se passava durante aquela seca de 1915. O livro contava duas histórias paralelas, que começam e terminam no mesmo ponto. Uma das tramas é a trajetória da família de Chico Bento, forçada a emigrar, a outra é a da tímida paixão entre a professora Conceição e seu primo Vicente. Lançado em 1930, em edição bancada pelo pai da autora, O quinze (José Olympio, 2004) surpreendeu pela linguagem sem pompa, cheia de vigor e oralidade, e pelo retrato pertinente da vida do nordestino. A surpresa ficava maior quando se descobria que a autora era uma mulher, e tinha apenas 20 anos. Não era comum que mulheres escrevessem numa linguagem daquelas, e tratando de temas tão duros. A tal ponto que se duvidou da autoria de O quinze.

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