Você sabe qual livro fundou o romance?

Apontado como fundador do romance, “Dom Quixote de la Mancha” (1605), do espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616), escrito em estilo propositadamente simples, configura-se como uma das mais comoventes e engraçadas obras da história da literatura. O protagonista, Alonso Quijano, é um homem comum, na casa dos 50 anos, aficionado por livros de cavalaria. Um belo dia, autoproclamando-se cavaleiro andante, ele monta em um pangaré, de nome Rocinante, e sai galopando mundo a fora em busca de aventuras, tendo ao seu lado Sancho Pança, seu fiel escudeiro. O romance, entendido como um pastiche das novelas de cavalaria da época, foi descrito pelo russo Dostoiévski (1821-1881) como a criação “mais profunda e poderosa” da literatura. Continue lendo ›

Uma vida dedicada aos livros.

Na manhã do dia 28 de fevereiro, o Brasil perdeu o bibliófilo José Ephim Mindlin, aos 95 anos. Nascido em São Paulo, em 8 de setembro de 1914, ele estava há mais de um mês internado no Hospital Albert Einstein, na capital paulista. Formado em Direito, advogou até 1950, momento em que fundou a empresa Metal Leve S/A, pioneira no Brasil em pesquisa e desenvolvimento tecnológico na área de autopeças. Mindlin foi dono de uma das maiores e mais importantes bibliotecas privadas do país, com várias raridades e primeiras edições. Ele começou a formar o conjunto bibliográfico aos treze anos; em 2006, no entanto, doou em torno de 45 mil volumes da coleção para a USP. Nesse ano, também, tomou posse da cadeira de número 29 da Academia Brasileira de Letras, que antes pertencia ao escritor Josué Montello.

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Você já ouviu falar da “narrativa em p”?

“Pentapaixão”, publicado em 2006, trata-se de um livro escrito por Dovílio Rodrigues, barbeiro da cidade de Araraquara, em São Paulo. A grande peculiaridade do romance é que todas as palavras que o compõem principiam com a letra “p”. A narrativa, que conta com mais de 20.794 palavras iniciadas com “p”, relata as cinco paixões vividas pelo personagem principal da história, o corredor Plínio Pirilo Pereza Proença, o Plininho, primogênito prematuro nascido de parto pélvico podálico (parto pelos pés). Os amores do protagonista vão desde uma portuguesinha, passando por uma pipoqueira e terminando com uma prostituta.
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Você sabe o que é Poesia Concreta?

A Poesia Concreta, ou Concretismo, foi um movimento encabeçado pelos poetas paulistas Décio Pignatari (1927) e os irmãos Haroldo (1929-2003) e Augusto de Campos (1931). A partir do final da década de 1940, os três começam a defender uma poesia que se voltasse contra a “poética oficial” da literatura brasileira, buscando e exercitando novas formas de expressão verbal, num diálogo constante com outras artes (pintura, escultura, música), tendo por objetivo lançar um olhar crítico à velocidade do crescimento da civilização industrial e tecnológica. Dialogavam com o Modernismo mais radical de Oswald e Mário de Andrade e queriam colocar em prática a visão do escritor como um “ser atuante”, inserido na sociedade, a fim de questioná-la. Formalmente, o Concretismo destaca-se pelo apagamento do “eu”, em benefício do adensamento do plano gráfico e visual, numa atualização radical de recursos que aparecem já na poesia “tradicional”, mas não com tanta ênfase: métrica; rimas; aliterações e assonâncias; cortes e repetições de frases ou palavras; inversões sintáticas; plasticidade da letra impressa. Obviamente, o movimento causou furor no cenário da literatura brasileira, com adesões e críticas; seus fundadores e mentores, no entanto, após o “furacão”, seguiram cada qual seu caminho, trabalhando, no decorrer de suas carreiras, com poesia, ensaios, traduções e pesquisas nas áreas de Letras e Comunicação. Na página da Internet sobre a obra de Augusto de Campos,http://www2.uol.com.br/augustodecampos/poemas.htm, podem ser vistos vários exemplos de poemas concretos do autor.

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Conheça a inspiração de Gilberto Gil para a música “Aquele abraço”.

A famosa canção de Gilberto Gil, iniciada com a seguinte estrofe – “O Rio de Janeiro continua lindo / O Rio de Janeiro continua sendo/ O Rio de Janeiro, fevereiro e março. / Alô, alô, Realengo – aquele abraço. / Alô, torcida do Flamengo – aquele abraço” – foi criada em 1969, logo depois de o músico baiano deixar a prisão de Realengo, no Rio de Janeiro, onde ficou detido por dois meses. Gil foi solto numa Quarta-feira de Cinzas e, vendo o centro da cidade ainda decorado para o Carnaval, compôs a música cujo título faz menção à celebração de sua liberdade. Aspectos que remetem ao universo carioca, como a torcida do Flamengo, os meses do verão (janeiro, fevereiro e março), o terreiro de umbanda, a irreverência de Chacrinha, a favela, a banda de Ipanema, entre outros, estão presentes na música. Pouco depois de compor “Aquele abraço”, ainda no ano de 1969, o cantor foi para Londres, permanecendo no exílio até 1972, quando retornou ao Brasil.

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Você sabe qual foi a primeira peça teatral a retratar uma favela?

Trata-se do drama “Orfeu da Conceição”, da autoria de Vinicius de Moraes, publicado originalmente em 1954, pela revista Anhembi. Subintitulada “Tragédia carioca em três atos”, a peça inspira-se na mitologia grega, sendo uma releitura do mito de Orfeu. Na versão do poeta brasileiro, o exímio tocador de lira mítico é transformado num sedutor sambista negro, morador de um idealizado morro do Rio de Janeiro da década de 1950. A peça, composta por três atos, estreou em setembro de 1956, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo Haroldo Costa, ator oriundo do TEP, Teatro Experimental do Negro, no papel de Orfeu. Antônio Carlos Jobim assinou as músicas e Oscar Niemeyer criou a cenografia do espetáculo. A noite de estreia também contou com o lançamento de uma edição de luxo do texto, com ilustrações de Carlos Scliar.

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Conheça J. D. Salinger.

Na semana passada, a literatura norte-americana perdeu, aos 91 anos, Jerome David Salinger, ou somente J. D. Salinger, autor do clássico “The catcher in the rye” (“O apanhador no campo de centeio”, na tradução brasileira, da Editora do Autor), romance originalmente publicado em 1951. Outros livros dele editados no Brasil são as coleções de contos “Nove estórias” e “Franny & Zooey”, além de duas pequenas novelas reunidas em “Carpinteiros, levantai bem alto a cumeeira/Seymour – Uma introdução”. Mas é por “O apanhador” que Salinger é sempre lembrado. O livro é narrado em primeira pessoa por Holden Caufield, adolescente que, expulso do colégio, vagueia por Nova York, antes de criar coragem para contar aos pais o negativo acontecimento escolar. O modo simples como o enredo aborda as questões suscitadas, aliado à linguagem coloquial, fez com que o romance tenha se tornado um sucesso mundial (estima-se que tenha vendido mais de 60 milhões de cópias), em especial junto aos jovens que, a partir da década de 1960, adotaram o protagonista como um símbolo das necessidades, das inquietudes e dos sentimentos da juventude do pós-2ª Guerra Mundial.

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Conheça o lado místico de Fernando Pessoa.

O poeta português Fernando Pessoa, um verdadeiro mago das palavras, interessava-se bastante pelos assuntos relativos ao misticismo: espiritismo, cabala, maçonaria, astrologia. Esta última talvez fosse um dos seus assuntos preferidos, tanto que fez o seu mapa astral e o de seus heterônimos, e também previu (e errou) o momento de sua morte, de acordo com os astros. A curiosidade com o zodíaco levou Pessoa a encontrar o polêmico místico britânico Aleister Crowley (1875-1947), que fez a cabeça de muita gente, incluindo John Lennon e Raul Seixas. Em 1930, após uma troca de cartas, Crowley foi a Portugal, onde passou duas semanas. Nesse período, encontrou-se duas vezes com o poeta dos heterônimos, oportunidade em que combinaram de encenar o suicídio do mago inglês, no Cabo das Rocas, em Cascais, sob a justificativa de “animar Lisboa”. No momento em que Crowley cruzava a fronteira país português, saía num jornal lisboeta a notícia, com necrológio assinado por Pessoa!

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Conheça os principais cronistas brasileiros

Estabelecida, no Brasil, em meados do século XIX, a crônica configura-se como um gênero hibrido, que dialoga com o jornalismo, com a prosa de ficção e com a poesia. Tendo como precursores escritores como José de Alencar e Machado de Assis, o gênero contou também com a contribuição, no início do século XX, de Olavo Bilac, João do Rio e Lima Barreto. Junto com o Modernismo, uma nova geração de cronistas ganhou espaço, tornando o Brasil um dos países mais profícuos no gênero: Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Rubem Braga, Joel Silveira, Raquel de Queiroz, Nelson Rodrigues, Eneida, Carlos Drummond de Andrade, seguidos de José Carlos de Oliveira, Antônio Maria, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Luis Fernando Veríssimo, entre outros. Continue lendo ›

Você sabe o que é o “teatro do absurdo”?

Trata-se de uma expressão criada, em 1961, pelo teórico Martin Esslin, para definir o teatro proposto por autores como Samuel Beckett, Eugène Ionesco, Arthur Adamov e Jean Genet, entre outros. A estética, que teve o seu auge na década de 1950, tem algumas características principais: reage contra a camisa-de-força do realismo, apresentando situações inusitadas ou ilógicas; não pretende contar uma história, mas comunicar uma configuração de imagens poéticas; tende a ter uma estrutura circular, terminando como começou ou progredindo apenas para uma crescente intensificação da situação inicial; não propõe teses, nem debate proposições ideológicas; expressa trágica sensação de perda diante do desabamento de certezas absolutas; apresenta uma linguagem que não tem sentido convencional; além de mostrar o homem confrontado com a realidade última de sua condição. A peça “Esperando Godot”, escrita em 1953 por Beckett, é um exemplo claro dessa estética.

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