Embora muitos acusem o grande escritor brasileiro, o mulato Machado de Assis, de pouco abordar a chaga maior da sociedade brasileira do século XIX, a escravidão, o autor carioca, à sua maneira, tocou sim no assunto, em contos, crônicas e romances. Por exemplo, contos como “Mariana”, “O caso da vara” e “Pai contra mãe” tratam de escravos fugidios e as ações e reações que sobre eles se desencadeiam por causa desse ato; especialmente o último vale a pena ser lido, por ser um dos mais belos contos machadianos, mostrando o impasse de Cândido Neves, que tinha como ofício ser um “pegador” de escravos: em dificuldades, vê na possibilidade de capturar uma escrava grávida fugida a chance de solucionar, temporariamente, os problemas financeiros que circundam a sua família. Já em “Memórias póstumas de Brás Cubas”, no capítulo LXVIII, “O vergalho”, o personagem-título vê um “preto que vergalhava outro na praça”; o negro que dava as chibatadas era, para surpresa de Brás Cubas, um antigo escravo seu, Prudêncio, que havia sido alforriado alguns anos antes. É uma passagem pequena, até porque Brás gosta “dos capítulos alegres”, mas mostra, com engenhosidade e sutileza, que a escravidão instituía um círculo vicioso de violência no Brasil.
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