Aos 36 anos, em 1927, sem dinheiro e sem conseguir escrever, nos fundos de um porão úmido numa casa encardida do Brooklyn, Henry Miller ouviu falar pela primeira vez em Artur Rimbaud.
O mítico poeta francês, grande fundador da lírica moderna, fenômeno literário único na história ao qual quase todos os movimentos de vanguarda são devedores: surrealistas, beatniks, hippies… Henry Miller achou que o detestaria.
Em primeiro lugar, Rimbaud era o poeta preferido de uma amiga da sua mulher, que na época morava com o casal e a quem Miller odiava. A mulher louvava o poeta das “Iluminações” como herói e mestre, e isso só podia contar contra Rimbaud. Além disso, vivendo numa atmosfera de esterilidade em que não conseguia sequer sair do primeiro ato de uma peça de teatro, a propósito descrevendo um escritor em crise, nada mais justo que Henry Miller desconfiasse do gênio de um escritor de dezessete anos. O americano não se dignou sequer a abrir um dos livros de Rimbaud que circulavam pela casa. “Tudo conspirava para me levar a repudiar-lhe o nome, a influência, a própria existência”, ele conta em “A hora dos assassinos – Um estudo sobre Rimbaud”, publicado em 1956.
Anos depois, quando ultrapassou essa imagem, Henry Miller descobriu em Rimbaud tudo que a tal odiada mulher via: um prodígio fascinante e de vitalidade literária esmagadora, que não deixa leitor nenhum passar impune.
- Autoria: Moema Vilela
- Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS