Ai que Saudades do Mario Lago

Considerado um artista múltiplo, Mario Lago era também um ótimo frasista. Ao digitar seu nome no oráculo dos tempos modernos, o Google, acham-se pérolas. “Fiz um acordo de coexistência pacifica com o tempo”, dizia Mario Lago, “Nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra”. E certa vez ele confessou ao jornalista João Máximo, de O Globo: “Isso aqui (a vida) está tão bom que penso seriamente em chegar aos 100”.

Infelizmente ele e o tempo se encontraram antes, quando o artista tinha 90 anos, em 2002. Foi ator de teatro, rádio, cinema e televisão, compositor, escritor, poeta, boêmio, advogado formado e ainda encontrou tempo para engajar-se na política, principalmente na época da ditadura militar.

Filho de músicos, foi encaminhado para o piano. Inicialmente, os pais queriam vê-lo concertista de piano, depois advogado e, mais tarde, diplomata. Mas ele tinha outras paixões, como a música popular e a boêmia.

Ainda era estudante de direito, no final dos anos 20, passou a percorrer o roteiro boêmio do Rio de Janeiro, ao lado de amigos como Noel Rosa. Nessa mesma época, influenciado por professores e colegas, entrou para militância política e empolgou-se com a doutrina marxista-lenilista, o que lhe valeria uma série de prisões. Na década de 30, escreveu algumas peças teatrais e músicas de sucesso.

Em 1942, ocorreram dois fatos importantes que cristalizaram seu caminho no mundo da arte. Foi convidado pelo diretor Joraci Camargo para protagonizar a peça O sábio. E, no carnaval daquele ano, veio a consagração como compositor. “Ai que Saudades da Amélia!”, parceria com Ataufo Alves, foi uma das mais tocadas nos bailes.

A carreira no rádio surgiu em 1944, quando o dramaturgo Oduvaldo Vianna, que o conhecia do teatro e das reuniões do Partido Comunista, convidou-o para trabalhar na Rádio Pan-Americana, em São Paulo. Porém ele não agüentou ficar longe do Rio de Janeiro por muito tempo e, assim que pôde, voltou à cidade natal para se integrar à equipe da Rádio Nacional. No cinema, atuou mais na década de 60, quando filmou inclusive Terra em transe, de Gláuber Rocha. Houve ainda os seus personagens marcantes na TV.

Uma vida assim cheia de peripécias merecia um livro para contá-la. A jornalista Mônica Velloso o escreveu, em 1997. Após a leitura deMário Lago: boemia e política (Editora da Fundação Getúlio Vargas), pode-se pensar: “Ai que saudade do Mario Lago!”.

Autoria: Luís Roberto Amabile
Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
Logotipo Faculdade de Letras da PUCRS Faculdade de Letras / PUCRS