Frank Sinatra, segurando um copo de bourbon em uma das mãos e um cigarro na outra, está parado em um canto escuro do bar entre duas loiras atraentes embora desbotadas que se sentaram esperando que ele dissesse alguma coisa”.
Este é o início da reportagem de Gay Talese que marcou a história do jornalismo e das reflexões sobre literatura e ficcionalidade. Apesar de rejeitar o rótulo, o trabalho do jornalista americano pode ser entendido como parte de um movimento da década de 1960 conhecido como New Journalism, que intensificou a utilização, para textos não-ficcionais, de técnicas literárias de captação, redação e edição. Nomes como Tom Wolfe, Truman Capote e Norman Mailler emprestaram ferramentas da literatura para suas reportagens, e firmaram um estilo de escrita que já tinha antecedentes famosos desde o século XVIII, com os relatos de Daniel Defoe.
A interface entre métodos e técnicas do jornalismo e da literatura ganhou ares de movimento entre os anos 30 e 60, a partir de jornalistas e veículos norte-americanos que começaram a publicar amplamente matérias dessa natureza. Gay Talese faz parte dessa onda, chamando, até hoje, sua produção jornalística de “Literatura da Realidade”.
Em 1966, a reportagem “Frank Sinatra está resfriado” se tornou um exemplo pioneiro e dos mais celebrados de jornalismo literário. Como o leitor pode sentir desde o primeiro parágrafo, o perfil do cantor ítalo-americano não está interessado em contar quantos anos tem Sinatra ou quantos discos e prêmios acumulou, mas em mergulhar no universo o artista. A partir dessa imersão, o texto ajuda a compreender questões complexas, como o panorama geral que consagrou Sinatra, a mídia, a máfia ou a cultura italiana, entre outras relações abordadas na matéria. Para muitos entusiastas desta linha no jornalismo, “Frank Sinatra está resfriado” é um exemplo excelente do que a combinação entre jornalismo e literatura pode oferecer.
- Autoria: Moema Vilela
- Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS