Se hoje as lideranças do futebol brasileiro estão enroscadas em denúncias e mais denúncias de corrupção, inclusive com um dos ex-presidentes da confederação brasileira preso por uma operação da polícia federal norte-americana, o passado reserva, pelo menos, um nome mais ilustre entre as fileiras de dirigentes: José Lins do Rego. Pois é, o escritor paraibano de Menino de Engenho (1932) e Bangüê (1934), era verdadeiro fanático pelo ludopédio e chegou a ser cartola do rubro-negro carioca, depois de se mudar a trabalho para o Rio de Janeiro.
Está lá, para quem não quiser acreditar, na própria página da Academia Brasileira de Letras: “em 1935, já nomeado fiscal do imposto de consumo, José Lins do Rego transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a residir. Integrando-se plenamente no ambiente carioca, continuou a fazer jornalismo, colaborando em vários jornais com crônicas diárias. Revelou-se, então, por essa época, a faceta esportiva de sua personalidade, sofrendo e vivendo as paixões desencadeadas pelo futebol, o esporte de sua predileção, foi torcedor do Flamengo. Foi secretário geral da Confederação Brasileira de Desportos de 1942 a 1954”.
No período, além de assistir a sofrível derrota brasileira em pleno Maracanã na Copa de 1950, o feito de maior destaque futebolístico de Zé Lins foi chefiar a delegação brasileira na disputa do campeonato sul-americano, o torneio precursor da Copa América, realizada no Peru em 1953. No turno único da competição, sem a presença de Argentina e Colômbia, a Seleção Canarinho jogou seis vezes. Ganhou quatro, até com um sonoro 8 a 1 para cima da Bolívia, e perdeu duas, para o Peru e para o Paraguai. Empatado por pontos com o Paraguai na primeira colocação, disputou uma partida de desempate contra o time guarani e perdeu por 3 a 2, terminando na segunda colocação.
A competição, no entanto, foi bastante conturbada para o autor. Como relata Fátima Antunes, no livro Com brasileiro, não há quem possa! – futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues, “as críticas da imprensa à delegação brasileira e ao próprio escritor foram tantas, sua decepção foi tão grande, que, findo o campeonato, resolveu afastar-se do meio esportivo, inclusive de sua coluna no Jornal dos Sports, que mantinha desde 1945. Zé Lins teria pensado, inclusive, em emigrar para o Chile, conforme depoimento de sua filha”.
Bem, felizmente, Zé Lins não se mudou para o Chile e acabou voltando para sua coluna nas gazetas esportivas. Morreu em 1957, sendo sepultado no cemitério São João Batista, na capital fluminense, mesmo lugar onde está enterrado Nelson Rodrigues, outro famoso fanático por futebol.
- Autoria: Davi Boaventura
- Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS