A inglesa Sarah Kane (1971-1999) soprou feito vento violento e repentino na dramaturgia contemporânea. Seus personagens vivem, assim como ela viveu, o desespero até o limite. Numa de suas peças, a muito autobiográfica Psicose 4.48, uma mulher em estado psíquico terminal questiona sua vida e o modo como o mundo (não) funciona.
“Fui eu mesma que eu nunca conheci, aquela que tem a face colada na parte inferior da minha mente”, diz a personagem, que assim como a autora passou por tratamento psiquiátrico. “Eu não quero viver”, “Eu não quero morrer”, “Eu não sou doente”, “Você é minha única esperança”, a mulher fala como se estivesse se debatendo, lutando para não afogar. De alguma forma estava, assim como a autora.
4h48, o texto informa, é o horário em que ocorria o maior número de suicídios na clínica psiquiátrica onde se encontra a personagem. Na verdade, acabar ou não acabar com a própria existência é o tema da peça. O caráter autobiográfico fica mais evidente quando se sabe que Sarah Kane morreu aos 28 anos. Suicidou-se poucas semanas depois de terminar de escrever a peça. Os cinco textos teatrais que deixou se mantêm (e a mantém, a ela, a autora) vitais.
- Autoria: Luís Roberto Amabile
- Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS