O dia em que Drummond descobriu Cora Coralina

Um dia, em 1979, Cora Coralina recebeu uma carta de Carlos Drummond de Andrade. O poeta não a conhecia, mas havia tomado contato com sua obra. A carta é reproduzida na orelha de seus livros, editados pela Global Editora. Drummond tomou para si a tarefa de apresentar a poetisa ao Brasil.

20120423b Cora tinha então 90 anos – nasceu em 20 de agosto de 1889 – e tinha vivido a maior parte de sua vida como doceira na Cidade de Goiás, também conhecida como Goiás Velho. A cidade foi declarada pela Unesco em 2001 Patrimônio Cultural da Humanidade por seu centro histórico preservado, com casarões e igrejas de arquitetura barroca.

Apesar de Cora Coralina escrever versos desde a adolescência, seu primeiro livro, Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, só foi publicado em 1965, às vésperas de ela completar 75 anos. O aval de Carlos Drummond de Andrade trouxe a Cora o reconhecimento literário. Ele continuou a se corresponder com ela. Após lerVintém de cobre, de 1983, escreveu-lhe:

“Minha querida amiga Cora Coralina: Seu Vintém de Cobre é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia (…).”

Cora morreu em 10 de abriu de 1985. A casa em que vivia hoje é uma das atrações mais visitadas. Fica à beira do rio Vermelho e dá título ao único livro de contos de Cora: Histórias da Casa Velha da Ponte. Desde 1989, ali funciona um museu que preserva as memórias e objetos da poetisa. Estão lá seu fogão à lenha e os tachos de doces. Também se pode ver o quarto onde ela escrevia, que Cora chamava de “sobradinho”.

Autoria: Luís Roberto Amabile
Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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