Quando os muros começaram a dizer?

Pichação em Madrid, 2013. Foto de: Iuri Müller.
Pichação em Madrid, 2013. Foto de: Iuri Müller.

Todos os dias, muros, paredes e fachadas são pintados nas grandes cidades do mundo, numa tensão permanente entre propriedade privada e insubmissão, cultura letrada e expressão das ruas. A pichação, que move debates extremamente atuais na América Latina, remonta, no entanto, a quase quinhentos anos atrás.

O crítico uruguaio Ángel Rama, em A cidades das letras, aborda o graffiti como resistência histórica às imposições da classe letrada no continente. Para tanto, Rama recorda o episódio que pode ter inaugurado a prática, em Tenochtitlán, onde hoje se ergue a Cidade do México, no ano de 1521. A cidade asteca havia sido tomada pelos espanhóis e, em meio a distribuição das riquezas, houve descontentamento entre alguns dos capitães invasores com as decisões de Hernán Cortés.

Bernal Díaz del Castillo, um dos conquistadores, contou num documento da época: “e como Cortés estava em Coyoacán e repousava em uns palácios que tinham paredes branqueadas e caiadas, onde com facilidade se podia escrever com carvões e outras tintas, amanheciam, todos os dias, muitos motes, escritos alguns em prosa e outros em verso, algo maliciosos (…) e ainda diziam palavras que não são para pôr neste informe”.

Desde então, os muros passaram a amanhecer cada vez mais preenchidos: há nomes assinados, palavras de ordem e de indignação, mensagens incompreensíveis e, em algumas esquinas, também espaço para a poesia.

Autoria: Iuri Müller
Mestrando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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