Se hoje está preocupada com a crise econômica, o desemprego e a dívida, Lisboa já teve de se defender de um cerco que durou meses. Também houve um terremoto, outras invasões, uma ditadura e uma revolução florida. Entre tantos acontecimentos, Lisboa já foi outra: teve outros nomes e pertenceu a outros povos.
“Tempo houve em que Lisboa não tinha esse nome. Chamavam-lhe Olisipo quando os Romanos ali chegaram, Olissibona quando a tomaram os Mouros, que logo deram a dizer Aschbouna, talvez porque não soubessem pronunciar a bávara palavra”. Quem explica é José Saramago, que nasceu no povoado de Azinhaga, mas passou boa parte da vida na capital portuguesa.
A Lisboa de Saramago aparece e se amplia nos seus livros: O ano da morte de Ricardo Reis, História do cerco de Lisboa, Claraboia, etc. Lisboa esta que prossegue sua vida de oito séculos sem a presença de Saramago, mas, outra vez, já não se trata da mesma cidade. “O lugar estava ali, a pessoa apareceu, depois a pessoa partiu, o lugar continuou, o lugar tinha feito a pessoa, a pessoa havia transformado o lugar”, escreveu o mesmo Saramago em “Palavras para uma cidade”, texto que integra o livro Folhas políticas.
- Autoria: Iuri Müller
- Mestrando da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS