Não existe método doce para dizer o que vou dizer, então passemos aos fatos: William Burroughs matou a sua própria mulher, Joan Vollmer. E sequer foi preso pelo assassinato, que aconteceu no México, em 1951, quando os dois cultivavam uma plantação de maconha e recebiam visitas inesperadas de escritores da geração beat.
O livro “A Vida Secreta dos Grandes Autores” conta:
“Em 1951, durante uma festa em sua casa no México, Burroughs e a esposa, Joan, decidiram regalar os convidados com a sua primorosa imitação de ‘Guilherme Tell’. Joan equilibrou um copo na cabeça, enquanto Burroughs fazia a mira com a sua pistola de 38 calibres. (Aparentemente, a questionável sensatez de um viciado em heroína completamente ‘chapado’ estar praticando tiro ao alvo com uma viciada em benzedrina não ocorreu a nenhum dos presentes.) Burroughs errou o alvo, explodindo os miolos de Joan e matando-a instantaneamente”.
“Fim da festa” ainda escreve o livro, de Robert Schnakenberg, mas não foi bem assim: graças a uma série de subornos e adiamentos de julgamentos, o escritor, já morando novamente nos Estados Unidos, foi considerado culpado in absentia e recebeu dois anos de suspensão da sentença, nunca tendo sido, de fato, encarcerado.
A experiência, claro, o marcou com profundidade. Ele depois declarou:
“Sou forçado à terrível conclusão de que jamais teria me tornado um escritor se não fosse pela morte de Joan. A morte de Joan me fez entrar em contato com o invasor, o Espírito Horrível, e me direcionou para uma luta que irá perdurar por toda a minha vida, na qual não tenho outra escolha exceto escrever para me libertar”.
Impossível dizer se ele, enfim, conseguiu se libertar: William Seward Burroughs II morreu em agosto de 1997, aos 83 anos.
- Autoria: Davi Boaventura
- Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS