Sartre, em delírio, sendo perseguido por uma lagosta gigante. Essa imagem, claro, é improvável, impensável, inacreditável, mas, aparentemente, aconteceu por quase um ano inteiro, depois de uma experiência alucinógena dar bastante errada para o filósofo existencialista.
De acordo com o escritor “fofoqueiro” Robert Schnakenberg, autor do livro “A Vida Secreta dos Grandes Autores”, Sartre se arriscou nos experimentos com drogas ainda na década de 1930:
“Determinado, como ele dizia, a ‘romper com os ossos do crânio’ e destravar a imaginação, Sartre ingeriu mescalina pela primeira vez em 1935, sob a supervisão de um médico estagiário com quem fizera amizade. No início, os efeitos foram amenos. Mas, depois de alguns dias, Sartre passou a sofrer alucinações cada vez mais desagradáveis”.
Entre os tais efeitos desagradáveis, a sensação de ser perseguido por uma lagosta gigante, por si só uma situação bem ruim já que Sartre sofria desde a infância com um enorme medo de criaturas marinhas, em especial um medo de ser lacerado pelas garras de um caranguejo ou arrastado para o fundo do mar por um polvo. Mas Sartre também se imaginou cercado por orangotangos, vendo relógios com a cara de uma coruja e ainda casas que escancaravam as bocas.
Óbvio, nada tão intenso quanto os experimentos e loucuras de Ken Kesey, escritor de O Estranho no Ninho, que, na década de 1960, saiu praticamente em excursão pelos Estados Unidos participando de diversos testes com drogas alucinógenas. Os desvarios de Sartre, no entanto, não foram inúteis: serviram de base para muitas das descrições intensas vividas pelo protagonista Roquentin do primeiro romance do autor, A Náusea, publicado em 1938, cujo vídeo abaixo, extraído do documentário “Sartre por ele mesmo”, reproduz um pequeno trecho.
- Autoria: Davi Boaventura
- Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS