Na ótima reportagem biográfica de Geneton Moraes Neto sobre Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino conta um episódio da famosa simpatia do poeta pela conversa ao telefone.
Conta Sabino, amigo de Drummond desde a década de quarenta, que uma vez os dois amigos se viram num duelo de trotes. Sabino chegou a telefonar pra meio mundo mentindo que Drummond queria falar com Otto Maria Carpeaux, com quem Drummond tinha uma relação bastante formal. Ligou para o jornal Correio da Manhã, ligou para vários amigos. De noite, ligou para Drummond.
“— Caiu, não é?
— Você não tem condição de saber se eu caí no trote ou não…
— Mas evidentemente que você caiu. Pelo tom de sua voz, você caiu!
E ele:
— Não, não caí…
De repente, falou o seguinte:
— Eu vou dizer o seguinte, Fernando: não gostei de sua brincadeira.
Tudo tem limite! Você extrapolou. Você não tinha o direito de fazer uma coisa dessas, envolver uma pessoa com quem eu tenho uma relação como o Carpeaux… (…)
— Carlos, me desculpe!
E ele:
— Desculpo, não! Isso foi uma cafajestada, uma coisa cretina, idiota… Não fale mais comigo.
Desligou o telefone. (…)
Resolvi ligar para Carlos na mesma hora. Eu não ia conseguir dormir se não ligasse. Ele deveria estar ofendido… Telefonei de volta. E ele estava às gargalhadas: “Caiu!”. Quer dizer, ele é que tinha me passado um trote. Carlos me pegou.”
A história está em Dossiê Drummond, lançado em 2007, em que o jornalista Geneton Moraes Neto, aproveitando o mote da morte do autor de Claro Enigma, reúne depoimentos de amigos e, melhor de tudo, transcreve longas entrevistas com Drummond.
- Autoria: Moema Vilela
- Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS