Charles Dickens (1812-1870) chamava o seu A Christmas Carol (apesar de a tradução brasileira ter sido Um conto de Natal, trata-se de um romance) de “meu livrinho natalino”. Modo de falar, pois o sucesso foi enorme. Publicada em 1843, continua sendo até hoje uma história popular. Fala da redenção do velho e aparentemente insensível Scrooge, que recebe a visita de alguns fantasmas que lhe fazem reavaliar o seu modo de viver.
Este que vos escreve também preparou algo para a data. Um continho…
Um hohoho
Assim que deu meia-noite, assim que liberaram a comida, antes mesmo de sair dizendo a esmo felizes natais, fiz meu prato e fui comer do lado de fora, no corredor, sentado no degrau. Uma de minhas priminhas se aproximou.
“Você vai comer aqui?”, ela disse.
“Acho que vou.”
“Por quê?”
“Tem menos gente.”
“Come na sala.”
“Aqui tá mais fresco.”
Ela se sentou ao meu lado. Eu enchendo a boca de farofa. Ela: “É melhor a gente entrar”.
“Por quê?”
“Se o Papai Noel passar e tiver alguém do lado de fora, ele não para aqui”, e gesticulou com suas duas pequenas mãos ao falar.
“Mas é que…”, inspirei. “… Acho que ele só vai passar de madrugada. Quando estiver todo mundo dormindo.”
“Ele não passa agora?”
“Acho que…”, comecei.
Ela me olhou de um jeito que não sei explicar direito. Ela acreditava.
Eu não soube como continuar.
Ela sim: “Acho que ouvi um hohoho”, ela disse. “Acho que ouvi um hohoho”, ela gritou, já dentro da casa.
Resolvi entrar também.
- Autoria: Luís Roberto Amabile
- Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS