Uma carta de amor e despedida

Dorine e André Gorz. Foto - Divulgação
Dorine e André Gorz. Foto - Divulgação

“Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos e eu amo você mais do que nunca.” Assim começa Carta a D., o último livro de André Gorz, endereçado a Dorine, sua companheira de toda a vida.

Gorz é reconhecido pela contribuição nas áreas da ecologia política e da filosofia. Encontrou-se com Sartre nos anos 1940 e então passou a viver na França, onde publicou os seus principais livros. E esteve ao lado de Dorine desde que a convidou para dançar numa noite gelada de outono: “numa noite, por acaso, eu a vi de longe, saindo do trabalho e descendo a rua. Corri para alcançá-la. Você andava rápido. Tinha nevado. O chuvisco fazia cachos nos seus cabelos. Sem pôr muita fé, eu a convidei para dançar. Você simplesmente disse sim, why not. Era 23 de outubro de 1947”.

Desde então, dividiram reportagens, paixões (para André a escritura, para Dorine o teatro), tempos de desemprego, alguma crise, anos dedicados à prática e à teoria da ecologia, e também a doença de Dorine. Doença que se tornou implacável e gerou, outra vez, uma decisão conjunta.

“Nós desejaríamos não sobreviver um à morte do outro”, escreveu André Gorz na Carta…, redigida em 2006. Meses mais tarde, André e Dorine optaram pelo suicídio, lado a lado, na cidade de Vosnon, na França.

Autoria: Iuri Müller
Mestrando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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