Você sabe o que é fundamental em uma peça de teatro?

O teatro ocidental tem origem nos festivais religiosos gregos em honra a Dionísio, no século VII antes de Cristo. Cânticos eram então entoados por um coro, conduzido por um solista – o Corifeu. No século VI a.C. surge o primeiro ator, quando o corifeu Téspis destaca-se do coro e, avançando até a frente do palco, declara estar representando o deus Dionísio. Surge assim a primeira personagem e o teatro como o conhecemos hoje.

20110926b

Em seu trabalho “A personagem de ficção”, Décio de Almeida Prado faz um detalhado apanhado do “papel” fundamental da personagem dentro de uma peça de teatro. Evidenciando as diferenças entre as personagens do romance e do drama, ressalta o caráter humano de ambas as formas de expressão, mas chama atenção para o fato de que só o teatro fala do homem através da ação do ator, fisicamente presente diante do seu grande interlocutor: o público.

Décio explica que é através da presença da personagem que se evidencia com nitidez a obra dramática. Surgidas das ações expressas nas rubricas dos textos dramáticos, elas assumem o que seria o discurso do narrador, em voz direta e passam a ser a fonte da palavra. O drama vale-se a tal ponto da personagem que é impossível evidenciar a ação dramática senão por ela. O próprio cenário permanece inerte até que o foco fictício da personagem surja em cena.

20110926c

A personagem de teatro define-se primeiro e sempre através das ações dramáticas, e a própria palavra “ação” encontra seu significado na palavra “drama” (curiosamente, a palavra “drama”, em grego, significa etmilogicamente “ação”). Aristóteles na “Poética” define: “Os imitadores imitam homens que praticam alguma ação”. A personagem teatral, então, antes de ser encarada como uma entidade, deveria ser vista pela atitude que encerra. Ela é o veículo para as palavras do autor.

Décio de Almeida Prado caracteriza as personagens teatrais por “três vias principais”: a primeira diz respeito ao que a personagem revela sobre si mesma, o que pode acontecer por meio de um confidente, um aparte ou pelo solilóquio. A segunda via refere-se ao “que a personagem faz”. Ela pode realizar seu drama valendo-se do humor, de sutilezas e também do grotesco. A terceira via é pelo “que os outros (em cena) dizem a respeito da personagem”.

20110926d

As personagens são os “coringas” da ação e estão intimamente ligadas a uma estrutura de cena que se movimenta, mostrando que não há um discurso fixo e tudo é passível de transformação. Assim, despertando no espectador a consciência de que uma transformação aconteceu através desta ação, elas tornam realidade o espetáculo teatral.

De acordo com Décio de Almeida Prado, “no teatro, (…) as personagens constituem praticamente a totalidade da obra: nada existe a não ser através delas”.

Colaboração:
Logotipo Faculdade de Letras da PUCRS Faculdade de Letras / PUCRS