A primeira geração de grandes cancionistas brasileiros aparece no final do século XIX, com destaque para a compositora Chiquinha Gonzaga e suas polcas. No início do século XX, surgem o choro e o samba, com nomes como os de Pixinguinha e Sinhô, refletindo traços da cultura africana trazida para o Brasil.
Nos anos 30, aparecem os sambistas brancos de classe média, como Ary Barroso, ao lado dos compositores do morro, como Cartola e Ismael Silva. É neste período que o samba começa a fazer a crônica da sociedade brasileira, na voz de Noel Rosa.
Com Noel Rosa o samba conheceu um jeito novo de se expressar, com letras mais complexas e poéticas e, através da divulgação pelo rádio, alcançou regiões distantes no País, elevando-se à condição de samba nacional.
Seu primeiro grande sucesso, a canção “Com que roupa eu vou” tornou-se um bordão popular para aqueles que se encontravam em dificuldades financeiras, no auge das repercussões da queda da bolsa de Nova Iorque, em 1929. Sua canção foi cantada em todo o Brasil durante o carnaval de 1931.
Na peculiaridade de sua crônica-poesia, Noel mostrou-se em perfeita sintonia com o momento brasileiro, apresentando temas sociais como o trabalho na fábrica – início do desenvolvimento industrial capitalista no País – de que é exemplo a canção “Três apitos”, do cotidiano, como em “Conversa de botequim”, do homossexualismo, em “Mulato bamba” e o tema do amor, em Último desejo”.
Na letra de “Quando o samba acabou”, Noel fala dos códigos de convivência no morro e do estilo de seus habitantes, suas crenças e as leis que todos conhecem e seguem. Nos versos da canção, os dois malandros sabem que para conquistar Rosinha, terão de ser vitoriosos no samba. Mas “em toda façanha/ sempre um perde e outro ganha”. Quando o sambista “parou de versejar”, pois a inspiração se foi, perdeu, também, o direito ao amor da musa. Só lhe resta abandonar a vila. A música passa a dar a medida dos sentimentos e assume temas até então, só trazidos pela poesia.
Através de suas descrições da vida cotidiana e seus tipos humanos, das referências a acontecimentos políticos e culturais, Noel fez a fotografia da Nação e colaborou para que o samba viesse a ser reconhecido como “símbolo nacional”.
Faculdade de Letras / PUCRS