Em “A filosofia da composição”, de 1845, Edgar Allan Poe descreve o processo de composição de seu poema mais famoso, “O corvo”. A obra, de grande musicalidade e estilização, tornou-se uma das mais importantes da poesia americana. Ela foi traduzida por escritores do quilate de Charles Baudelaire e Stéphane Mallarmé, que foram conquistados pelas rimas internas e pelos jogos fonéticos de “O corvo”, bem como pelo romantismo negro, pelas alegorias e pelos símbolos. Em língua portuguesa, traduções partiram da iniciativa de admiradores como Machado de Assis e Fernando Pessoa.
Uma curiosidade sobre “O corvo” que o escritor deixa para os biógrafos detalhistas ecoa logo no começo de “A filosofia da composição”, quando Poe cita o romance Barnaby Rudge, de Charles Dickens. Esse romance foi resenhado pelo poeta e contista americano para a Graham’s Magazine em 1842. Nesta crítica, Poe elogia a capacidade de Dickens de compor personagens dramáticos, entre eles, em especial, um corvo falante. Poe avalia que o corvo de Barnaby Rudge deveria até ganhar mais espaço no romance, sublinhando que seu eco poderia servir de forma profética no desenrolar da trama – como, mais tarde, Poe fez com “O corvo”.
O corvo de Barnaby Rudge, por sua vez, foi inspirado na ave de estimação de Charles Dickens, um pequeno animal apelidado Grip. A relação entre os dois corvos é aposta tão certa entre os estudiosos de Dickens e Poe que um colecionador incorporou o cadáver de Grip na terra de Poe, junto à coleção da Philadelphia Free Library.
- Autoria: Moema Vilela
- Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS