Você sabe o que é o “Mal de Bartleby”?

Trata-se de uma síndrome que faz os escritores desistirem para sempre de escrever. O nome “Mal de Bartleby” foi dado pelo espanhol Enrique Vila-Matas, a partir do conto “Bartleby, o escrivão”, de Herman Melville, o mesmo autor de “Moby Dick”. Na história, o melancólico Bartleby trabalha em um escritório em Wall Street e, estranhamente, ao ser indagado sobre qualquer tarefa a ser realizada, responde: “Eu preferia não fazer”. Vila-Matas, inspirado na narrativa, escreveu o livro “Bartleby e companhia”, em que menciona vários autores que desenvolveram a síndrome que os levou a interromper seus escritos. O poeta francês Arthur Rimbaud (1854-1891) é um dos acometidos por este mal, pois começou a fazer poesias aos dezesseis anos e aos dezenove, depois de escrever livros importantes como “Uma temporada no inferno” e “Iluminações”, simplesmente desistiu da literatura para sempre. Outro exemplo mais próximo, brasileiro e atual, é Raduan Nassar, que depois de publicar poucas histórias, entre elas o admirável romance “Lavoura arcaica”, afirma que parou de escrever definitivamente para se dedicar à agricultura.

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Você conhece o Sabadoyle?

Grandes escritores brasileiros, conversando sobre literatura, aos sábados, na casa do advogado e bibliófilo Plínio Doyle – essa pode ser a definição resumida do que era o Sabadoyle. Em fins de 1964, o poeta Carlos Drummond de Andrade começou a freqüentar a residência de Doyle, no Rio de Janeiro, dando origem aos encontros semanais. Inicialmente, as reuniões se davam na Rua Barão de Jaguaripe, n. 62; depois, foram deslocadas para o apartamento 201 do prédio 74, na mesma rua, devido à falta de espaço da primeira casa. Além dos fundadores Drummond e Doyle, faziam parte do grupo nomes como Raul Bopp, Aurélio Buarque de Holanda, Américo Lacombe, Joaquim Inojosa, Peregrino Júnior, Ciro dos Anjos, Alphonsus de Guimaraens Filho, Gilberto Mendonça Teles, Pedro Nava, Homero Homem, Afonso Arinos, Wilson Martins, Murilo Araújo, Mário da Silva Brito, entre muitos outros. A partir de 11 de novembro de 1972, decidiu-se fazer uma ata semanal das reuniões, muitas vezes lavradas na forma de poemas, como a primeira, de Guimaraens Filho, em trecho abaixo:

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Você sabe qual o livro mais caro já comprado por um bibliófilo?

Como se sabe, o que determina o preço de um livro não é necessariamente o seu tempo de existência, já que certos livros antigos podem não ter valor. O que torna o volume valioso é a procura. Conforme aponta a revista “Book and Magazine Collector”, o livro mais caro já comprado por um colecionador é a edição de 1922 de “Ulysses”, de James Joyce. O volume, que teve uma tiragem de mil exemplares, cem deles numerados, custou ao comprador cem mil libras, o equivalente a R$ 328.000. No Brasil, a realidade tende a ser diferente, já que os livros raros são mais baratos. Segundo o bibliófilo José Mindlin, nos anos 60, um negociador lhe ofereceu a primeira edição de “O Guarani”, de José de Alencar, de 1857, por mil dólares (o equivalente a R$ 2.600). A oferta foi negada e Mindlin, depois arrependido, só conseguiu um exemplar de 1857 vinte anos mais tarde, em um leilão de obras raras em Paris. O valor, entretanto, não foi revelado.

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Você conhece o Junta-Cadáveres?

Larsen, Junta-Cadáveres ou simplesmente Junta é uma personagem que aparece em vários romances de Juan Carlos Onetti (1909-1994), um dos maiores escritores uruguaios, que a despeito do boom da literatura latino-americana do século XX, ainda não é suficiente e merecidamente conhecido. Para Julio Cortázar, por exemplo, era o maior romancista da América Latina. É interessante notar que vários romances de Onetti – A vida breve, O estaleiro e Junta-Cadáveres, todos recentemente relançados no Brasil pela Editora Planeta – têm como cenário a imaginária Santa Maria, um misto das várias cidades do Uruguai que o escritor morou ou conheceu. Onetti explora com profundidade o mundo psicológico das suas figuras ficcionais, retratando com melancolia as misérias humanas, ao mesmo tempo em que aponta para a degradação e o preconceito da sociedade burguesa. A personagem Junta-Cadáveres, de certa forma, sintetiza as temáticas onettianas: no romance a que dá título, Junta, obstinadamente, procura vencer diversos empecilhos, a fim de instalar um prostíbulo na provinciana cidade de Santa Maria. Para tanto, como primeiro passo, arregimenta um trio de prostitutas decadentes – daí o seu apelido: ele é aquele que recolhe, ou “junta”, pessoas marginais, as quais farão um serviço que ninguém deseja realizar.

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Você se lembra da Série Vaga-lume?

Pedra fundamental do mercado editorial brasileiro, a Série Vaga-lume, da Ática, surgiu a partir da década de setenta e ainda hoje está no catálogo da editora, o que prova que professores e alunos adolescentes ainda frequentam as suas páginas. Especialmente projetada para os leitores juvenis, poucos são os brasileiros escolarizados de 1970 em diante que não leram ao menos um volume da extensa coleção, desde os clássicos de Lúcia Machado de Almeida (Spharion, O escaravelho do diabo, a série Xisto) e Marcos Rey (O mistério do cinco estrelas, O rapto do Garoto de Ouro e Um cadáver ouve rádio) até os mais recentes, como Tem lagartixa no computador, de Marcelo Duarte, e A chave do corsário, de Eliana Martins.

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Você sabe a origem do sobrenome Górki, de Máximo Górki?

Máximo Górki foi o pseudônimo escolhido pelo escritor russo Aleksei Maksímovich Peshcov (1868-1936); Górki, em russo, significa “amargo”. A escolha do sobrenome está relacionada com a difícil situação de miséria enfrentada pelo dramaturgo, contista e ativista político, antes do reconhecimento de sua obra literária. Além de trabalhar como sapateiro, desenhista, lavador de pratos em um navio e vendedor de frutas, o autor de Pequenos burgueses e Ralé (ambas de 1901) chegou a viajar com um grupo de marginais nômades à procura de emprego, passando fome e frio. A situação era tão difícil que Górki, aos dezenove anos, tentou o suicídio. O tiro atingiu um dos pulmões, tendo como conseqüência uma tuberculose. Depois da tentativa frustrada de dar fim à sua vida, Górki tornou-se marxista e seguidor de Lênin, sendo preso inúmeras vezes e, a seguir, exilado. A derrubada do regime czarista na Rússia, entretanto, evidenciou a importância de Górki, considerado uma das maiores figuras literárias do regime comunista.

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Você sabe que famoso escritor quase duelou com Olavo Bilac?

Trata-se de Raul Pompéia (1863-1895), autor do conhecido romance O Ateneu. Tanto a biografia de Olavo Bilac (1865-1918), de Raimundo Magalhães Júnior, quanto a de Pompéia, escrita por Camil Capaz, comentam a insólita desavença entre os dois escritores. O conflito surgiu após o ícone do Parnasianismo criticar severamente Pompéia em um de seus artigos, acusando-o de estar sendo cooptado pelo governo de Floriano Peixoto, ao aceitar o emprego de professor de Mitologia da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, além de outras agressões pessoais. Pompéia sentiu-se terrivelmente ofendido e, num encontro acalorado, ambos se esbofetearam, decidindo resolver a questão em um duelo de espadas. Na hora do enfrentamento, contudo, o árbitro, mediante testemunhas, conseguiu convencê-los a desistirem da luta, selando o impasse com um constrangido aperto de mãos entre os dois espadachins. De temperamento instável e conhecido por suas crises nervosas, Raul Pompéia se suicidaria tempos depois, com um tiro no peito.

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Você sabe o que é um “aparte” no teatro?

Trata-se de um discurso da personagem que não é dirigido a um interlocutor, mas a si mesma (e, conseqüentemente, ao público). Diferencia-se do monólogo por sua brevidade e integração no resto do diálogo. O aparte parece escapar à personagem e ser ouvido por acaso pelo público, enquanto o monólogo é um discurso mais organizado, destinado a ser apreendido e demarcado pela situação dialógica. Note-se que no aparte a personagem nunca mente, posto que está confabulando consigo mesma. Amplamente utilizado no teatro renascentista, o recurso serve para revelar aspectos da interioridade das figuras cênicas, podendo, no caso das comédias, ampliar o potencial lúdico da cena. Gil Vicente, por exemplo, utilizou esta técnica no Auto da Índia, onde a Moça profere vários apartes críticos em relação às atividades adúlteras da sua Ama.

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Você conhece Satolep?

Satolep (Pelotas ao contrário) é um local que o músico, compositor e escritor Vitor Ramil recorrentemente cita em sua obra musical e literária. Ao mesmo tempo real e imaginária, a cidade, claramente inspirada em Pelotas, localizada no Sul do Rio Grande do Sul, conforma-se a partir do filtro da memória e da imaginação, numa recriação perpétua, em que a ficção e a poesia, muitas vezes, suplantam a realidade e universalizam o particular. Vitor Ramil afirmou, em uma entrevista recente, que Satolep é a sua Macondo, numa referência à cidade-símbolo da obra de Gabriel García Márquez. Não à-toa, nas suas duas mais recentes obras – o disco Satolep sambatown, em parceira com Marcos Suzano (2007), e o romance Satolep (2008), o anagrama com o nome da cidade sulina comparece nos títulos. Músico dos mais criativos da música brasileira – passeando pelo intimismo, pela milonga, pela MPB, pelo tango, pelo experimentalismo – Vitor Ramil nasceu em 7 de abril 1962, exatamente em Pelotas, cidade onde atualmente mora, depois de passar alguns anos no Rio de Janeiro. Em 2009, o músico, devido ao conjunto de sua obra (oito discos, dois romances e um ensaio, “A estética do frio”), foi escolhido o patrono da 36ª Feira do Livro da Praia do Cassino, em Rio Grande, que ocorre até o dia 8 de fevereiro e que tem como tema a “Cultura sem fronteiras”.

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