Uma coluna com portas de geladeira

Gosto de pensar no grupo de pesquisa Limiares Comparatistas e Diásporas Disciplinares: Estudo de Paisagens Identitárias na Contemporaneidade como os cavaleiros da távola retangular. Que se reúnem ao cair da tarde de sexta-feira para discutir literatura. Que nos abre outros horizontes, enquanto o horizonte (estamos no sétimo andar da biblioteca) também nos seduz. Principalmente agora, que é outono.

Outro dia li numa crônica do Amílcar Bettega Barbosa que é muito fácil eleger a estação preferida quando se mora em Porto Alegre: “Apenas a luz ímpar e as temperaturas civilizadas que enfim chegam para domesticar a selvageira do verão já bastam”. Ou como dizia o Érico Veríssimo: a cidade ganha uma “cor fulva como a pele do leão” e chega um “frio seco, moderado, gostoso” (que, convenhamos, neste ano da graça de 2014 estava demorando…).

Para mim, um paulista, mudar-se para o Sul representou a descoberta de que o outono de fato existe – ao contrário do que poetizou o Drummond: “Tristeza ver a tarde cair/ como cai uma folha./ (No Brasil não há outono/ mas as folhas caem)”. É uma descoberta assaz agradável.

Essa estação também nos permite tirar a geladeira da potência máxima. A geladeira. O nosso grupo de pesquisa. Que nos relacionamos com delicadeza. Que deixamos a literatura nos afetar com afeto (ah, o tão esquecido!). Que até em nossas portas de geladeira. Vide as fotos que trocamos por e-mail.

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Autoria: Luís Roberto Amabile
Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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