O mundo hoje é melvilliano?

Dizem por aí que uma das maiores honras possíveis para um escritor é que o seu nome se transforme em um adjetivo: kafkiano, masoquista, balzaquiana, sádico, etc., etc., etc. E é mesmo uma honra? Sim, claro. Mas poucos alcançaram o prestígio pós-morte de Herman Melville – autor de Moby Dick, Bartleby, o escrivão e Billy Budd, apenas para citar os principais títulos –, o que é uma fina ironia, já que, em vida, o autor não conseguiu prestígio algum.

Por exemplo, desde 1945 existe a The Melville Society, uma organização voltada para estudos e publicações acerca da obra do escritor, responsável pelos Melville Society Extracts e pelo periódico Leviathan: A Journal of Melville Studies, cuja assinatura custa US$ 30. A partir de 1985, Nova Iorque também possui uma Herman Melville Square, localizada na interseção entre a Park Avenue e a 26th Street, onde Melville morou entre 1863 e 1891, escrevendo vários de seus livros, incluindo Billy Budd, publicado somente mais de trinta anos depois da morte do autor.

Mas a homenagem mais inusitada ocorreu em junho de 2010, quando o escritor norte-americano foi celebrado de uma maneira bem peculiar, ainda por cima em um gesto absolutamente adequado ao seu maior sucesso, Moby Dick. Digo: o seu sobrenome se tornou nome de uma antiga espécie de cachalote, os Leviathan melvillei, descoberta à época em fósseis encontrados em um deserto peruano.

Vivendo 12 a 13 milhões de anos atrás, de acordo com a revista Nature em artigo online, o cachalote possuía dentes muito maiores que os dentes encontrados em cachalotes dos dias de hoje, algo como 10 centímetros a mais. Seu crânio media cerca de três metros e a estimativa é que o comprimento do animal chegasse a uma medida entre treze e dezessete metros e meio. Pela composição de sua mandíbula, acredita-se ainda que o tal cachalote caçasse como atualmente caçam as chamadas baleias assassinas, utilizando os dentes para rasgar a carne da presa.

Ah, claro, falando em homenagens a Melville, não podemos nos esquecer desta música aqui:

Nada mal para um sujeito que, reza a lenda, morto em 28 de setembro de 1891, teve o seu nome registrado errado no obituário do New York Times.

Autoria: Davi Boaventura
Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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