Em abril desse ano, uma reação da escritora Claire Messud iniciou uma discussão sobre a aprazibilidade dos personagens de ficção. Na divulgação de um novo romance, The Woman Upstairs, Messud foi questionada pelo Publisher Weekly se ela gostaria de ser amiga de Nora, sua protagonista aparentemente controlada e agradável no exterior, mas bastante raivosa na intimidade. A pergunta foi feita após a declaração de que a entrevistadora não gostaria, e Messud respondeu com ênfase:
“Pelo amor de Deus, que tipo de questão é essa? Você gostaria de ser amiga de Humbert Humbert? Gostaria de ser amiga de Mickey Sabbath? Saleen Sinai? Hamlet? Krapp? Édipo? Oscar Wao? Antígona? Raskolnikov? Qualquer um dos personagens de As correções? Qualquer um dos personagens de Infinite Jest? Qualquer um dos personagens de qualquer coisa que Pynchon já escreveu? Ou Martin Amis? Ou Orhan Pamuk? Ou Alice Munro? Se lê para achar amigos, você está com um grande problema. Nós lemos para achar vida, em todas as suas possibilidades. A questão relevante não é “Este é um amigo em potencial para mim?”, mas “Esse personagem tem vida?”
A fala de Messud despertou a declaração de uma série de romancistas e contistas sobre o assunto, estimulados por periódicos como The New Yorker, que juntou de Jonathan Franzen a Margaret Atwood para explorar o assunto e admitir seus afetos por personagens famosos e nem sempre considerados especialmente desagradáveis – como Mrs. Dalloway, “um saco”, para a escritora inglesa Tessa Hadley.
- Autoria: Moema Vilela
- Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS