Quintana e o jovem Kiefer

Era uma época em que “fumava-se até dentro das igrejas”, não que o cigarro seja importante para essa historinha, ou melhor, historieta; mais justo seria dizer que era um tempo em que o Charles Kiefer era jovem e o Mario Quintana ainda marcava ponto, “o cigarro entre os lábios”, no redação do Correio do Povo.

O jovem Kiefer, nem 18 anos ainda, achava que “escrever fosse a coisa mais simples do mundo, bastava despejar sobre o papel as minhas emoções, as minhas paixões e os meus delírios juvenis”. Recém havia publicado um livro, o seu primeiro, um de poemas, O lírio do vale, e foi pessoalmente entregá-lo a Mario Quintana no jornal, mas o “maior poeta da província” não lhe deu atenção.

2014Mar10_Capa do livro Para ser escritor, de Charles Kiefer

Hoje um dos maiores prosistas da província (ostenta, entre outros, três Jabutis e um Prêmio da Biblioteca Nacional), com lançamentos entre os mais concorridos, o jovem Kiefer não reuniu mais do que quatro interessados na sessão de autógrafos de O lírio do vale na Feira do Livro daquele ano. O detalhe é que um dos interessados era o Mario Quintana. O poeta compareceu para prestigiar o discípulo, ao qual tinha ignorado dias antes, mas também para ofertar um conselho: “Meu filho, escreva 200 poemas e publique 20”.

Essa reelaborada historinha, ou melhor, historieta, consta no livro de Kiefer Para ser escritor, no qual ele reflete sobre seus mais de 25 anos como professor de oficinas. E não nos esqueçamos do conselho do Quintana…

Autoria: Luís Roberto Amabile
Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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