Por que Mario Arregui escreveu poucas páginas?

Há diversas justificativas para os escritores que, na mais radical das contradições do ofício, optam por não escrever. O catalão Enrique Vila-Matas se ocupou de alguns dos motivos em Bartleby e companhia. O narrador do romance, um escritor que não escreve, percorre explicações reais (o caso de Rimbaud, por exemplo, que abandonou a escritura para viver uma vida de experiências drásticas) e outras mais contestáveis (como o mexicano Juan Rulfo, que justificativa o seu silêncio na literatura com a morte do tio, exímio contador de histórias).

Não se pode dizer que o uruguaio Mario Arregui tenha sido um Bartleby, um escritor que optou pela não-escritura. Mas o fato é que o contista escreveu pouco, ao menos em termos quantitativos. Segundo o pesquisador Oscar Brando, Arregui publicou cerca de cinquenta contos, algumas reflexões em formato de ensaio, um relato de viagem e um pequeno livro em homenagem ao poeta Líber Falco, além da troca de correspondência com o escritor gaúcho Sergio Faraco. Sua obra completa poderia ser condensada em um só volume – livro que não seria dos mais pesados.

Muitos esperavam uma produção maior de Arregui, que encantou leitores com contos de temática rural em que se pode encontrar uma cuidadosa construção psicológica dos personagens. Mario Arregui, afeito ao vinho, ao tabaco e ao sexo, disse em 1970 que “escrever acaba sendo um trabalho penoso, de modo que muitas vezes prefiro não fazer, escapar. Nunca quis ter uma disciplina para isso. Milhares de horas que poderia ter utilizado para a escrita eu gastei, de modo mais satisfatório, lendo, conversando com amigos, vendo filmes ou simplesmente pelotudeando” – esta última, uma intraduzível expressão rio-platense que significa algo como “deixar o tempo passar sem qualquer objetivo definido”.

Autoria: Iuri Müller
Mestrando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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