André Sant’Anna, que seria qualquer coisa, menos escritor

O seu pai é escritor. Você o vê diariamente num quarto, sentado à máquina de escrever, ignorando a beleza do dia lá fora. O seu pai está lutando para transformar em livros, em contos, principalmente, as boas ideias que teve. Que escrever é isso: o legal é na hora que se tem a ideia, fica-se feliz com ela. Depois é trabalho, muito, você vê o seu pai lá, quieto, só o barulho de suas mãos ao datilografar, ele parece deprimido e você pensa que aquilo não é para você.

Não, você não quer ser escritor. Isso nunca. Qualquer coisa menos isso.

O André Sant’Anna me contou (durante uma oficina no SESC Pinheiros, em 2009) que era assim que pensava na adolescência, ao observar o pai, o premiado contista e romancista Sérgio Sant’Anna, trabalhando. André gostava mesmo era de sair com os amigos, falar com as pessoas, tocar contrabaixo – tanto que por muitos anos foi conhecido no cenário artístico por fazer parte de um grupo de música no Rio de Janeiro, o Tao e Qual.

A situação mudou um pouco quando ele tomou o fora de uma namorada, o que deu origem a Amor. O livro, que diz ter escrito só por diversão, de uma maneira catártica, “sem nenhum tipo de angústia”, ficou quase dez anos guardado. Em 1998, André publicou a obra, já devidamente reescrita, por uma pequena editora de Minas Gerais, e recebeu um inesperado retorno crítico. Depois vieram outros livros – o mais falado deles sendo o romance O paraíso é bem bacana (2006) – e uma certeza: não há como negar que ele é um escritor.

Lembrei-me disso ao ler uma entrevista de André Sant’Anna no site da Companhia das Letras, na qual ele responde a algumas perguntas formuladas por Bernardo Carvalho. Uma delas diz respeito a esse “tornar-se escritor”. Eis a resposta, ou a parte da resposta que me interessa:

“O lado ruim é que o trabalho fica mais pesado, fica mais trabalho. O lado bom é que a gente procura se esmerar mais, pensar mais antes de escrever cada frase. Aumenta a autocrítica e isso pode trazer bons resultados”.

Autoria: Luís Roberto Amabile
Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS

Colaboração:
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