Uma entrevista quase real com Edward Albee

Num dia de primavera em 2007, Edward Albee – autor de clássicos da dramaturgia estadunidense como “Zoo Story” e “Quem tem medo de Virginia Woof”? e “Três mulheres altas” – foi até o Museu de Arte Moderna de Nova York para conversar com alguns estudantes do último ano do Ensino Médio. Eram jovens que pretendiam seguir a carreira de escritores e que foram selecionados para o programaYoungArts. O encontro foi relatado numa reportagem do The New York Times. Da reportagem eu montei a entrevista a seguir, que por isso é parcialmente real (e, em conseqüência, parcialmente fictícia):

Você escreveu sua primeira peça aos 30 anos. Deveria ter começado a escrever dramaturgia mais cedo?
Não. Cada um tem uma idade diferente em que se torna capaz de escrever o que tem que escrever. Acho que cada escritor tem um momento diferente quando decide que será um escritor. George Bernard Shaw escreveu sua primeira peça aos 42 anos. Até então ele havia sido um crítico de música. Por outro lado, Mozart já sabia que seria compositor aos quatro anos, mas ele era especial.

Antes você escrevia poesia, porque parou?
Desisti de escrever poesia aos 28 anos. Eu era melhor imitador do que poeta. Nunca me senti um poeta. E você não pode fazer o que não sente. Acho que todo mundo tem um momento em que descobre que tipo de escritor é.

Os escritores não podem transitar entre dois gêneros?
Sim, mas as pessoas geralmente são melhores em uma coisa ou outra. Henry James foi um grande romancista, mas um péssimo dramaturgo. Arthur Miller escreveu um romance. Não chegue perto dele. Samuel Beckett foi um grande romancista e um grande dramaturgo. Ele reinventou as duas formas, por isso ele é intocável.

Quais são os seus dramaturgos favoritos?
Vou citar alguns essenciais do século 20, que todo e qualquer aspirante a artista deve ler: Tchecov, Pirandello, Beckett e Brecht. Mas uma advertência: não leia apenas os grandes autores, leiam os não tão bons ou os ruins também. É muito encorajador dizer a si mesmo: “Eu posso fazer melhor do que isso”.

Quais dicas práticas o senhor daria a quem está começando a escrever?
Não escreva cedo demais. Conheça seus personagens. Você deve escrever sobre pessoas absolutamente reais em situações reais. É a única maneira de os atores poderem representar seu material. Nunca faça discursos, não seja obscuro, nunca se torne a opinião de alguém sobre você e lembre-se de que cada fala tem dois objetivos: primeiro, delinear o personagem e, segundo, fazer a trama avançar. Tudo o mais é desperdício.

Autoria: Luís Roberto Amabile
Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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