Os sofrimentos do jovem Werther (1774) foi muito popular em seu tempo. Inspirou mesmo uma onda de suicídios pela Europa – devido ao seu amor impossível pela prima Carlota, o protagonista se mata com um tiro de pistola. O crítico e escritor Marcelo Backes crava que a literatura alemã divide-se em antes e depois de Werther. Alteia que o romance epistolar de Johann Wolfgang Goethe (1749-1832) deu início à prosa moderna na Alemanha e ainda antecipou o romance burguês do século 19. Como fazem muitos especialistas, não se cansa de elogiar: “Werther é um fulgor, um raio atravessando o horizonte da Literatura Universal. Construído sobre um arcabouço quase dramático, o acontecimentos sucedem-se num crescendo quase martirizante, anunciando e preparando a catástrofe”.
Apesar do respaldo da crítica, passados mais de dois séculos de sua publicação, a obra não comove a todos os leitores. Vide o diálogo que escutei (ou recriei) num café.
“O jovem Werther é um banana”, ela disse.
“O quê??”, ele até derramou o café.
“Você não acha?”
“Sim, claro. E você é uma insensível.”
“Ah, ele fica lá, como se fosse o cachorrinho da Carlota.”
“Ele tá apaixonado.”
“Mas ele é muito babão, a Carlota pode não gostar de homem assim. Ele é gentil demais, ansioso, desesperado para fazer tudo por ela. Poxa, ninguém aguenta!”
“Ele não é assim sempre. Não com os outros.”
“Ele precisa dar um jeito.”
“Ele tenta, mas é um problema de medula.”
“Ã?”
“A medula da alma é atingida pelo amor ao menos uma vez na vida. E aí o sujeito não pode mais jogar nenhum jogo de sedução. Fica paralisado, travado, embasbacado, babando mesmo, como você disse.”
“Então tá. Deu no que deu.”
- Autoria: Luís Roberto Amabile
- Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS