O primeiro romance de Carol Bensimon (Sinuca embaixo d’Água) foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura e do Jabuti de 2010. Antes, as três histórias de Pó de parede já haviam chamado a atenção – o livro foi finalista do Açorianos 2008 na categoria Contos – para a jovem (nascida em 1982) escritora porto-alegrense. Agora, Carol, que no ano passado foi incluída pela revista inglesa Granta no volume “Os melhores jovens escritores brasileiros”, lança seu segundo romance. É sobre esse livro, o esperado Todos nós adorávamos caubóis (Companhia das Letras), que ela falou à coluna.
Pergunta – O seu primeiro romance foi um sucesso, o que obviamente criou uma expectativa em relação ao segundo. Como foi lidar com isso?
Carol Bensimon – Se houve alguma pressão, acho que foi interna mesmo (risos). Até a história tomar a forma que tem hoje, foram muitas mudanças e desejos se somando no caminho. Nos primórdios, lá por 2009 ou 2010, a ideia era escrever uma história que se passasse integralmente em Paris, até porque eu estava morando lá naquela época, absorvendo um monte de coisas, questionando minha “brasilidade”, etc. Desse esboço de trama, só a Cora, a narradora, ficou. Quando voltei pro Brasil, veio a ideia de colocar essa personagem na estrada. E, pra fazer isso, eu tinha que pôr o pé na estrada também, porque, até aquele momento, eu conhecia pouquíssimo do interior do Rio Grande do Sul. Portanto, foi um processo bem demorado. Não acho que eu tenha “travado” em algum momento, e certamente não por pressões externas, mas levou um bom tempo para o texto chegar onde eu queria.
Pergunta – A arquitetura de uma casa em Porto Alegre ou a de um hotel no interior; a cidade de Porto Alegre no Sinuca embaixo d’água; e agora, no Todos nós adorávamos cowboys, a região de Minas do Camaquã. Qual a importância do espaço na sua literatura?
Carol Bensimon – Sim, o espaço é fundamental. Sou apaixonada por espaços. Não acredito muito em histórias que poderiam se passar em qualquer lugar, sem levar em consideração as particularidades geográficas, os sentimentos que evocam os lugares, a relação das pessoas com o entorno, esse tipo de coisa. Foi Wim Wenders quem falou isso uma vez, e eu nunca mais me esqueci.
Pergunta – Como fez para fugir de clichês de road movies ao escrever um road book?
Carol Bensimon – Acho que a própria concepção da trama buscou fugir um pouco dos clichês. Pra começar, são duas garotas viajando, enquanto a maioria das narrativas de estrada costuma dar o protagonismo aos homens. Em segundo lugar, é um deslocamento que acontece no interior do Rio Grande do Sul, um cenário bem pouco explorado pela literatura contemporânea brasileira (sem cair em qualquer tipo de regionalismo. Até porque o olhar da narradora é um olhar de quem está acostumada com grandes centros urbanos). Outra coisa que particulariza esse livro é a importância que o passado das personagens tem na história, o que não costuma acontecer nas narrativas de estrada (a maioria se foca na ação presente, e a vida “pré-viagem” costuma ser uma incógnita).
- Autoria: Luís Roberto Amabile
- Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS