Rainer Maria Rilke (Praga, 1875-1926) dedicava tempo abundante para sua correspondência, e ela se tornou célebre pelo lirismo e por ricas reflexões não apenas sobre a literatura, mas sobre a criação artística em geral. São conhecidas suas “Cartas sobre Cézanne”, que trocou com a esposa Clara Westhoff, ou a correspondência com a intelectual russa Lou Andreas-Salomé. O que mais ganhou o coração dos leitores de todo mundo, no entanto, foram as chamadas “Cartas a um jovem poeta”, publicadas em 1929, três anos após a morte de Rilke, pelo jovem Franz Xaver Kappus.
Como o próprio Franz escreve no prefácio à publicação, enviou suas experimentações poéticas para o grande escritor alemão, expondo-se sem reservas e pedindo uma avaliação honesta. Franz não tinha nem vinte anos e trabalhava num emprego que parecia contradizer suas pretensões literárias. As respostas do autor de “Elegias de Duíno” ganharam o status de “clássico” literário, graças à sua simplicidade e força.
Rilke diz, entre outras coisas, que ninguém de fora pode julgar se um autor deve continuar ou desistir de escrever: cada artista precisa avaliar, solitariamente, suas motivações, e então descobrir se a arte é para ele tão importante quanto respirar. “Investigue o motivo que o manda escrever; examine se entende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever?”.
A proposta de Rilke pode parecer radical para nossa cultura, mas apenas afirma a importância, para o artista, de uma consciência apurada sobre sua criação, suas motivações e conseqüências, e a esterilidade de apelar para a crítica e a popularidade como critérios absolutos de justificação da obra.
As cartas também trazem conselhos práticos que podem ser aproveitados até hoje pelos aspirantes a escritores, como a importância de não ligar para a crítica, não dar atenção demasiada à teoria, evitar lugares-comuns, aguçar o imaginário, observar o entorno e dali retirar inspiração para o texto, entre muitas outras advertências e sugestões.
- Autoria: Moema Vilela
- Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS