Em 1921, num dos chás literários da hoje mítica livraria parisiense Shakespeare and Company, um escritor irlandês foi apresentado à proprietária: “Ora se não é o grande James Joyce”, disse Sylvia Beach. Ela tinha fundado a livraria dois anos antes, para divulgar a literatura de língua inglesa, e era fã de Joyce desde que lera Retrato de um artista quando jovem.
Joyce tinha acabado de chegar a Paris. Fazia anos que vinha peregrinando pela Europa para fugir da rígida sociedade irlandesa de então. Porém mesmo na França não encontrava editor para o livro a qual dedicara os sete anos anteriores. Era um calhamaço cheio de inovações formais. Era considerado maldito por suposta pornografia. Era a descrição de um só dia, uma quinta-feira, 16 de junho de 1904, na qual um certo Leopold Bloom perambula por Dublin. Era Ulisses.
Como Sylvia Beach conta em Shakespeare and Company Uma livraria na Paris do entre-guerras (Casa da Palavra, 2004), ela resolveu tomar para si a missão de publicá-lo. E em fevereiro de 1922, expôs na vitrine de sua livraria os primeiros exemplares. Também iniciou uma operação de busca de leitores nos EUA e na Inglaterra, onde Ulisses tinha de ser contrabandeado, já que fora censurado. E não quis receber os direitos das seis primeiras edições. Doou-os a Joyce, de quem foi editora pelo restante de sua vida.
- Autoria: Luís Roberto Amabile
- Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS