O livro dos cachorros, já na praça

Luís Roberto Amabile
Luís Roberto Amabile

O livro dos cachorros é o segundo volume de contos de Luís Roberto Amabile, depois de o primeiro, O amor é um lugar estranho (Grua, 2012), ter sido finalista do Prêmio Açorianos em 2013. Nascido em Assis/SP, o autor é jornalista, mestre e doutorando em Teoria da Literatura pela PUCRS, em que desenvolve atualmente pesquisa sobre Hemingway. Do criador de Nick Adams, Amabile gosta de lembrar a frase de que o jornalismo é uma bela profissão “desde que largada a tempo” – brincadeira de quem já foi repórter de cultura, turismo e gastronomia na Folha de S. Paulo, no Estado de S. Paulo e na Editora Abril. De quem também prima pelo humor, presente nos dois livros com nuances diferentes – mais intimista em um, flertando com o absurdo em outro. O que não é brincadeira é que o tempo do autor agora é da literatura, na disciplina na produção da tese sobre a fase francesa do escritor norte-americano e também na escrita e reescrita de contos, um romance e em outras produções literárias, como a obra Contos sem tarja preta, co-organizada em 2014. Veja a seguir algumas palavras do autor sobre seu novo livro, já em pré-venda no catálogo da editora Patuá.

Capa de O livro dos cachorros, de Luís Roberto Amabile

Por que O livro dos cachorros se chama assim?

Vou responder citando. Primeiro o Sérgio Sant’Anna. No conto que dá nome ao livro O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro, de 1982, que, aliás, ganhou o Jabuti, o Sérgio Sant’Anna diz que naquele metaconto que ele se encaixa muito bem no espírito do livro. O que acontece é que eu enxergo nos contos de O livro dos cachorros um certo (ou errado [rs]) espírito canino. Para definir o que seria isso, recorro às epígrafes. Primeiro a Virginia Woolf, em Flush: “Mas o código moral dos cães, por bem ou por mal, é certamente diferente do nosso, e não há nada nessa conduta específica de Flush que exija disfarces ou que invalide sua posição de representante puro e casto na sociedade da época”. E o Roger Grenier, Da dificuldade de ser cão: “E se a literatura fosse um animal que arrastamos ao nosso lado, noite e dia, um animal doméstico e exigente, que jamais nos deixasse em paz, que fosse preciso amar, alimentar, levar para passear?”.

O livro segue uma linha diferente de O amor é um lugar estranho?

Totalmente certo. Também aqui empresto palavras de outros mais competentes do que eu para explicar essa diferença. O João Carrascoza disse na orelha de O amor é um lugar estranho que minha escrita naquele livro “toca pela escrita pungente, pelo humanismo seco”. O Altair Martins e a Cintia Moscovich, no prefácio e na apresentação que, respectivamente, escreveram para O livro dos cachorros ressaltam o humor e o absurdo dos contos. Eu concordo com todos, então, como se nota, são trilhas diferentes as que sigo nos dois livros. Acho que minha literatura sofre de dupla, ou, para ser mais exato, de múltiplas personalidades (rs).

Você também me disse que alguns contos ganharam concursos.

Eu vivo em crise com concursos. Se ganho, fico mal. Pensando que faço uma literatura padrão, daquelas formatadas para ganhar prêmios em concursos. Se perco, também sofro: poxa, eu não ganho nada, não gostam do meu texto… Então parei de participar, pronto. Dito isso, sim, alguns contos ganharam concursos. O conto que abre o livro, por exemplo, ganhou um prêmio do Grupo Livrarias Curitiba, em 2012. Já último conto, devidamente adaptado para o teatro por mim, teve o texto premiado no Festival de Peças do Minuto do Grupo Parlapatões, que o apresentou no Brasil e em Portugal. O bom dos concursos é que dão um dinheirinho, mas não são critérios únicos para a valoração de um texto, acho sempre importante frisar isso.

Autoria: Moema Vilela
Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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