Cenas de uma livraria encantada

Já escrevi reportagem sobre a histórica Shakespeare and company, às margens do Sena, em Paris; minha edição de Howl, de Allen Ginsberg, foi comprada na City Lights, em São Francisco, Califórnia, que serviu de plataforma para os beats; passei tardes fugindo do calor do verão de Buenos Aires no ar-condicionado da grandiosa El Ateneo Grand Splendid. Mas nenhuma dessas livrarias me surpreendeu mais que a Miragem, em São Francisco De Paula (Avenida Júlio de Castilhos, 603, [54] 3244-3592). Espero que as fotos transmitam um pouco do encantamento.

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Feito tatuagem

Um grupo norte-americano, Litographs, está levantando fundos coletivos para um projeto que mistura tatuagem e literatura. Eles vão produzir tatuagens temporárias inspiradas em quinze obras clássicas principalmente de língua inglesa, como Hamlet, Sidarta, Orgulho e preconceito, Peter Pan,Trópico de Câncer. São passagens e artes marcantes, como o monólogo final da Molly Bloom em Ulisses, para guardar no corpo até o derradeiro banho.

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Truman Capote e autoflagelação

Truman Capote começou a escrever com oito anos de idade – de uma hora para outra, sem se basear em nenhum exemplo. Nunca tinha conhecido ninguém que escrevesse e conhecia muito pouca gente que lesse. “O importante, porém, é que as quatro únicas coisas que me interessavam eram: ler livros, ir ao cinema, dançar sapateado e desenhar”, diz ele no prefácio deMúsica para Camaleões, uma coletânea de seus textos de jornalismo literário. “Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação.”

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Documentário com Carolina Maria de Jesus

Um documentário alemão sobre a escritora Carolina Maria de Jesus, filmado nos anos setenta, foi exibido pela primeira vez no Brasil este ano, centenário de nascimento da autora. Nele, um pouco da história de vida da mulher que, catadora de papel, semiletrada, registrou seu cotidiano na favela do Canindé (SP) com uma sensibilidade que tornou seu Quarto de Despejo – Diário de uma favelada, publicado em 1960, traduzido em uma dezena de idiomas e best-seller nos Estados Unidos, Alemanha e França.

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Derrida, Barthes. E o futebol

A Copa se foi. Deixou lembranças. Alegrias. Feridas. Pelo visto, e pelo vivido, indiferença e futebol nunca combinaram. Mesmo na cabeça de quem aparentemente só pensa em coisas ditas “sérias”. Autor de mais de uma centena de livros, o filósofo Jacques Derrida (1930-2004) – criador da teoria da desconstrução, tecida a partir do princípio de inexistência da verdade absoluta –, afirmou que seu sonho não realizado foi não ter se tornado um boleiro profissional. Consta numa entrevista publicada no livro Jacques Derrida / por Geoffrey Bennington e Jacques Derrida (Editora Zahar).

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Budapeste ou Noturno do Chile?

Em Nova York, a Universidade de Rochester aproveitou a Copa do Mundo para criar, dentro do departamento de Letras, um mundial de títulos literários. Seguindo inicialmente as mesmas chaves do futebol, autores de 32 países competem diariamente, em partidas julgadas em detalhes por críticos escolhidos pela organização do torneiro. Eles pontuam altos e baixos de cada obra ao longo das páginas, em formato de resenhas publicadas no blog do projeto.

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Eu fiz o Brasil chorar; e eu chorei

Em tempos de Copa, sempre me volta a primeira de que tenho lembrança. E da “Tragédia de Sarriá”. Foi em 5 de julho de 1982 que o Brasil de Telê, com Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico, perdeu da Itália. E eu perdi a fé. Aquele time não ter sido campeão era a prova irrefutável de que não existia Justiça Divina. 3 a 2 pra Itália. O mundo não fazia sentido. Três gols de Paolo Rossi no Estádio Sarriá, em Barcelona. A vida não prestava. A seleção perfeita eliminada nas quartas-de-final.

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O interior despedaçado em Quebranto

Quebranto (e-galáxia, 2014) é o primeiro livro de contos de Marcos Vinícius Almeida, autor também do romance Inércia (Multifoco, 2009). As histórias foram escritas e reescritas entre 2011 e 2013, entre Porto Alegre e São Paulo, onde o autor hoje vive, mas capturam o universo da vida no interior do Brasil. A vida besta de Drummond, a sordidez da “gente boa da roça” de O’Connor, toda a riqueza íntima e de linguagem das cidades pequenas são elementos tão presentes nos contos de Quebranto que o livro quase se chamou “Interior despedaçado”.

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