“A bola não é a inimiga/ como o touro, numa corrida” diz João Cabral de Melo Neto no poema O futebol brasileiro…; e de fato, para alguns grandes escritores nacionais (não muitos, é verdade), a bola foi tudo menos uma inimiga: ela serviu de inspiração para a literatura.
Rubem Fonseca escreveu alguns contos sobre futebol. O mais famoso deles é Abril, no Rio, em 1970, que faz parte de seus livros mais elogiados: Feliz Ano Novo (lançado em 1975). No conto, o narrador é um jovem de dezoito anos que tenta se mostrar para um técnico famoso, mas tudo saí errado.
Porém foi a crônica, esse gênero tão brasileiro quanto a habilidade com a bola nos pés, que serviu de campo fértil para o literatura futebolística.
Insuspeitadamente, Carlos Drummond de Andrade gostava bastante de nosso esporte mais popular, tanto que escrevia em jornais sobre o assunto. O material está reunido em Quando é dia de futebol.
Luís Fernando Veríssimo, além de fanático pelo Internacional de Porto Alegre, também exalta as belas jogadas e tira sarro das falhas memoráveis em muitas das crônicas de A eterna privação do zagueiro absoluto, que também reúne textos sobre cinema e literatura. O futebol ainda serve de mote para um livro de Veríssimo destinado ao público infantil: O cachorro que jogava na ponta esquerda.
O cronista brasileiro de futebol mais famoso, porém, é Nelson Rodrigues. Os textos reunidos em À sombra das chuteiras imortais – crônicas de futebol são considerados obras-primas do gênero. Mas Nelson Rodrigues é um caso à parte. Como conta Ruy Castro – organizador do livro e autor da biografia de Nelson O anjo pornográfico –, o cronista ia ao estádio, mas não via as partidas sobre as quais escreve. O motivo é que Nelson era míope, mas tinha vergonha de usar os óculos no meio da torcida, então os tirava. O resultado é que o jogo se transformava numa mancha na qual era impossível distinguir quem era quem. E isso provavelmente ajudou na genialidade de suas crônicas, pois nela estão reflexões e histórias que vão muito além da partida de futebol.
- Autoria: Luís Roberto Amabile
- Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS