Os cadernos de Joan Didion

Premiado na categoria de não-ficção no National Book Award em 2005, O ano do pensamento mágico, de Joan Didion, trata da perda do marido e das dificuldades de lidar com a filha, Quintana, no enfrentamento de uma doença que se mostrou fatal. Didion começa o livro com as primeiras frases que escreveu no caderno de anotações depois que o marido morreu, após quarenta anos de casados, no meio de uma frase e de um copo de whisky, antes do jantar.

A importância do caderno de anotações para Didion é conhecida. Romancista, roteirista e ensaísta, ela escreveu On keeping a notebook (1968), reflexões sobre manter um caderno de notas, onde fala como considera importante “não perder de vista as pessoas que fomos, a despeito de as considerarmos companhias agradáveis ou não”. Um trecho da tradução para o português feita por Christian Schwartz para a revista Serrote 14 e ½ , uma edição especial da Flip de 2013:

“De modo que a razão para eu manter um caderno de anotações nunca foi, nem é hoje em dia, o registro factual preciso do que fiz ou pensei. Esse seria um impulso totalmente diferente, um instinto de realidade que às vezes invejo, mas não possuo. Nunca, em nenhum momento, fui capaz de manter um diário para valer; minha forma de ver o dia a dia vai da extrema negligencia à simples ausência, e, nas poucas vezes em que tentei diligentemente registrar o que aconteceu em um dia, fui tomada por tamanho tédio que o resultado foi, no máximo, misterioso. Do que vale algo como “compras, bater o texto à máquina, jantar com E., deprimida”? Que compras? Qual texto eu estava escrevendo à máquina? Quem é E.? Ela é quem estava deprimida, ou era eu? E quem se importa? (…) Como senti acontecer: aqui estamos mais perto da verdade sobre um caderno de anotações”.

Autoria: Moema Vilela
Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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