Você sabe qual o livro mais caro já comprado por um bibliófilo?

Como se sabe, o que determina o preço de um livro não é necessariamente o seu tempo de existência, já que certos livros antigos podem não ter valor. O que torna o volume valioso é a procura. Conforme aponta a revista “Book and Magazine Collector”, o livro mais caro já comprado por um colecionador é a edição de 1922 de “Ulysses”, de James Joyce. O volume, que teve uma tiragem de mil exemplares, cem deles numerados, custou ao comprador cem mil libras, o equivalente a R$ 328.000. No Brasil, a realidade tende a ser diferente, já que os livros raros são mais baratos. Segundo o bibliófilo José Mindlin, nos anos 60, um negociador lhe ofereceu a primeira edição de “O Guarani”, de José de Alencar, de 1857, por mil dólares (o equivalente a R$ 2.600). A oferta foi negada e Mindlin, depois arrependido, só conseguiu um exemplar de 1857 vinte anos mais tarde, em um leilão de obras raras em Paris. O valor, entretanto, não foi revelado.

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Você conhece o Junta-Cadáveres?

Larsen, Junta-Cadáveres ou simplesmente Junta é uma personagem que aparece em vários romances de Juan Carlos Onetti (1909-1994), um dos maiores escritores uruguaios, que a despeito do boom da literatura latino-americana do século XX, ainda não é suficiente e merecidamente conhecido. Para Julio Cortázar, por exemplo, era o maior romancista da América Latina. É interessante notar que vários romances de Onetti – A vida breve, O estaleiro e Junta-Cadáveres, todos recentemente relançados no Brasil pela Editora Planeta – têm como cenário a imaginária Santa Maria, um misto das várias cidades do Uruguai que o escritor morou ou conheceu. Onetti explora com profundidade o mundo psicológico das suas figuras ficcionais, retratando com melancolia as misérias humanas, ao mesmo tempo em que aponta para a degradação e o preconceito da sociedade burguesa. A personagem Junta-Cadáveres, de certa forma, sintetiza as temáticas onettianas: no romance a que dá título, Junta, obstinadamente, procura vencer diversos empecilhos, a fim de instalar um prostíbulo na provinciana cidade de Santa Maria. Para tanto, como primeiro passo, arregimenta um trio de prostitutas decadentes – daí o seu apelido: ele é aquele que recolhe, ou “junta”, pessoas marginais, as quais farão um serviço que ninguém deseja realizar.

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Você se lembra da Série Vaga-lume?

Pedra fundamental do mercado editorial brasileiro, a Série Vaga-lume, da Ática, surgiu a partir da década de setenta e ainda hoje está no catálogo da editora, o que prova que professores e alunos adolescentes ainda frequentam as suas páginas. Especialmente projetada para os leitores juvenis, poucos são os brasileiros escolarizados de 1970 em diante que não leram ao menos um volume da extensa coleção, desde os clássicos de Lúcia Machado de Almeida (Spharion, O escaravelho do diabo, a série Xisto) e Marcos Rey (O mistério do cinco estrelas, O rapto do Garoto de Ouro e Um cadáver ouve rádio) até os mais recentes, como Tem lagartixa no computador, de Marcelo Duarte, e A chave do corsário, de Eliana Martins.

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Você sabe a origem do sobrenome Górki, de Máximo Górki?

Máximo Górki foi o pseudônimo escolhido pelo escritor russo Aleksei Maksímovich Peshcov (1868-1936); Górki, em russo, significa “amargo”. A escolha do sobrenome está relacionada com a difícil situação de miséria enfrentada pelo dramaturgo, contista e ativista político, antes do reconhecimento de sua obra literária. Além de trabalhar como sapateiro, desenhista, lavador de pratos em um navio e vendedor de frutas, o autor de Pequenos burgueses e Ralé (ambas de 1901) chegou a viajar com um grupo de marginais nômades à procura de emprego, passando fome e frio. A situação era tão difícil que Górki, aos dezenove anos, tentou o suicídio. O tiro atingiu um dos pulmões, tendo como conseqüência uma tuberculose. Depois da tentativa frustrada de dar fim à sua vida, Górki tornou-se marxista e seguidor de Lênin, sendo preso inúmeras vezes e, a seguir, exilado. A derrubada do regime czarista na Rússia, entretanto, evidenciou a importância de Górki, considerado uma das maiores figuras literárias do regime comunista.

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Você sabe que famoso escritor quase duelou com Olavo Bilac?

Trata-se de Raul Pompéia (1863-1895), autor do conhecido romance O Ateneu. Tanto a biografia de Olavo Bilac (1865-1918), de Raimundo Magalhães Júnior, quanto a de Pompéia, escrita por Camil Capaz, comentam a insólita desavença entre os dois escritores. O conflito surgiu após o ícone do Parnasianismo criticar severamente Pompéia em um de seus artigos, acusando-o de estar sendo cooptado pelo governo de Floriano Peixoto, ao aceitar o emprego de professor de Mitologia da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, além de outras agressões pessoais. Pompéia sentiu-se terrivelmente ofendido e, num encontro acalorado, ambos se esbofetearam, decidindo resolver a questão em um duelo de espadas. Na hora do enfrentamento, contudo, o árbitro, mediante testemunhas, conseguiu convencê-los a desistirem da luta, selando o impasse com um constrangido aperto de mãos entre os dois espadachins. De temperamento instável e conhecido por suas crises nervosas, Raul Pompéia se suicidaria tempos depois, com um tiro no peito.

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Você sabe o que é um “aparte” no teatro?

Trata-se de um discurso da personagem que não é dirigido a um interlocutor, mas a si mesma (e, conseqüentemente, ao público). Diferencia-se do monólogo por sua brevidade e integração no resto do diálogo. O aparte parece escapar à personagem e ser ouvido por acaso pelo público, enquanto o monólogo é um discurso mais organizado, destinado a ser apreendido e demarcado pela situação dialógica. Note-se que no aparte a personagem nunca mente, posto que está confabulando consigo mesma. Amplamente utilizado no teatro renascentista, o recurso serve para revelar aspectos da interioridade das figuras cênicas, podendo, no caso das comédias, ampliar o potencial lúdico da cena. Gil Vicente, por exemplo, utilizou esta técnica no Auto da Índia, onde a Moça profere vários apartes críticos em relação às atividades adúlteras da sua Ama.

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Você conhece Satolep?

Satolep (Pelotas ao contrário) é um local que o músico, compositor e escritor Vitor Ramil recorrentemente cita em sua obra musical e literária. Ao mesmo tempo real e imaginária, a cidade, claramente inspirada em Pelotas, localizada no Sul do Rio Grande do Sul, conforma-se a partir do filtro da memória e da imaginação, numa recriação perpétua, em que a ficção e a poesia, muitas vezes, suplantam a realidade e universalizam o particular. Vitor Ramil afirmou, em uma entrevista recente, que Satolep é a sua Macondo, numa referência à cidade-símbolo da obra de Gabriel García Márquez. Não à-toa, nas suas duas mais recentes obras – o disco Satolep sambatown, em parceira com Marcos Suzano (2007), e o romance Satolep (2008), o anagrama com o nome da cidade sulina comparece nos títulos. Músico dos mais criativos da música brasileira – passeando pelo intimismo, pela milonga, pela MPB, pelo tango, pelo experimentalismo – Vitor Ramil nasceu em 7 de abril 1962, exatamente em Pelotas, cidade onde atualmente mora, depois de passar alguns anos no Rio de Janeiro. Em 2009, o músico, devido ao conjunto de sua obra (oito discos, dois romances e um ensaio, “A estética do frio”), foi escolhido o patrono da 36ª Feira do Livro da Praia do Cassino, em Rio Grande, que ocorre até o dia 8 de fevereiro e que tem como tema a “Cultura sem fronteiras”.

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Você sabe qual era a função do “ponto” no teatro?

“Ponto” era um profissional do teatro responsável por “assoprar”, em voz baixa, as falas que deviam ser repetidas, em voz alta, pelos atores. Na imagem, é possível visualizar a localização do ponto, instalado num alçapão situado no centro-baixo do palco. Note-se que ele se encontra escondido por uma proteção curva, planejada para projetar o som de sua voz, sussurrada, para o fundo da cena. A vantagem desse recurso era que os atores não precisavam decorar todo o texto e mesmo que o decorassem, o ponto os socorria em caso de perda súbita da memória. Embora a estratégia não seja mais utilizada no teatro, a tecnologia permitiria, aos dias de hoje, que o ponto fosse substituído por equipamentos eletrônicos, à semelhança do que ocorre em programas de televisão, em que o diretor, muitas vezes, conduz a fala dos apresentadores.

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Você sabe de onde é a expressão “O inferno são os outros”?

A assertiva é dita por uma das personagens da peça de teatro Huis clos (Entre quatro paredes, na tradução brasileira), do francês Jean-Paul Sartre, escrita em 1945. Nela, duas mulheres e um homem encontram-se no inferno, condenados a permanecer para sempre juntos, “entre quatro paredes”. Em uma entrevista, o dramaturgo e filósofo contou que a inspiração para a criação do texto surgiu de uma situação real: ele resolveu escrever uma peça para três amigos seus, atores, mas não queria que nenhum personagem tivesse mais destaque do que o outro. Então pensou: “Como mantê-los sempre juntos em cena?”, indagação que trouxe a idéia de colocá-los presos no inferno, de modo que cada uma das figuras cênicas agisse como carrasco das outras duas. Ao trazer a célebre expressão, a peça sartriana pondera que o outro, na verdade, é fundamental para o conhecimento de si mesmo. Isto é, o ser humano necessita relacionar-se com o outro para construir a sua identidade, processo nem sempre tranqüilo e harmonioso.

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