Que literatura há nas mesas do Café Brasilero?

Crédito: Carolina Oliveira
Crédito: Carolina Oliveira

Rua Ituzaingó, 1147, a poucos metros da Plaza Matriz. Ciudad Vieja, Montevideo, Uruguai, o sul do sul do continente. As coordenadas geográficas levam a um salão à meia-luz em que dez mesas de madeira esperam pelos frequentadores. Ao fundo, o espelho do balcão revela, tal como os vidros da porta de entrada, o nome e a data de inauguração do lugar: estamos no Café Brasilero, fundado em 1877.

Em Montevideo e em outras cidades do continente, o espaço dos cafés já esteve muito próximo da atividade literária: tais lugares serviam como alternativa para escritores que preferiam trabalhar fora de casa e também como ponto de encontro para grupos de vanguarda e artistas que tramavam ideias coletivas. No Café Brasilero, as marcas da literatura sempre estiveram presentes e ainda se mostram com nitidez.

Mario Benedetti, montevideano ilustre, via a cidade passar pelas amplas janelas do café da rua Ituzaingó. Foi fotografado numa das mesas e o retrato, tempos depois, apareceria na capa do livro A imagen y semejanza, de Benedetti. O poeta Enrique Estrázulas também é reconhecido por visitar e escrever alguns dos seus versos no café, sempre numa das mesas do lado direito de quem adentra o local. Desde abril, no entanto, o Café Brasilero sente a ausência de Eduardo Galeano, talvez o mais famoso dos frequentadores.

Galeano ia ao café para dar entrevistas, ler os jornais do dia, responder a cartas de amigos distantes, ver o tempo passar. Em uma entrevista, o escritor afirmou que os cafés de Montevideo pertencem a uma época “em que havia tempo para perder tempo”. “Os cafés foram a minha única universidade”, disse Galeano. Hoje, sempre que o Café Brasilero estiver com as portas abertas, uma foto de Galeano é iluminada por uma das luminárias do lugar.

Crédito: Carolina Oliveira
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Autoria: Iuri Müller
Mestrando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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