Após João Guimarães Rosa ser eleito, sem voto contra, para a Academia Brasileira de Letras, a insistência em adiar a posse, somada a declarações de que não sobreviveria ao evento, criou um mito sobre a morte do escritor, três dias depois. Teria o autor de Grande Sertão: Veredas feito um pacto como o de seu personagem Riobaldo? Ou, como bom inventor que era, Rosa estaria só esbanjando elementos para mais uma história de fantasia e mistério?
Alguns fatos dessa narrativa da vida real são que, em 1963, Rosa faz uma intensa campanha, bem-sucedida, para a candidatura à Academia. Evitou a posse, porém, por quatro anos. Pressionado a marcar a data em 1966, escolheu a quinta-feira de 16 de novembro de 1967, um ano depois. O pesquisador Marcelo Marinho, doutor em Letras com tese sobre Grande Sertão: Veredas, anota que, em diversas ocasiões, o escritor declarou que poderia suportar a cerimônia de posse, mas talvez não pudesse passar do dia seguinte – e ainda previra o problema fatídico, cardíaco. Na cerimônia, teria feito diversas vezes o sinal da cruz, solicitado ao médico que ficasse próximo e mencionado diversas vezes Getúlio Vargas. No discurso, tornou célebre a frase de que as pessoas não morrem, ficam encantadas…
Para Marinho, conforme escreveu num artigo sobre o assunto, “Rosa fez de si mesmo e de sua própria vida uma voraz esfinge que, por impossibilidade de decifração, devora os passantes e os leitores ávidos por solução para os mistérios do fado e os enigmas da poesia – em suma, para a grande charada da existência humana”.