Você sabe por que os escritores preferem os gatos?

Os gatos têm hábitos noturnos e parecem habitar um mundo misterioso, numa esfera mística e inatingível ao homem.

Desde a antiguidade os povos egípcios os adoravam atribuindo a uma deusa felina o poder de unir o céu e a terra, representados pelos deuses Ísis e Osíris.Na Pérsia acreditava-se que ao ferir um gato preto o homem estaria maltratando a si mesmo.

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Na literatura os gatos sempre tiveram o lugar de figuras ilustres e veneradas pelos autores. O poeta Charles Baudelaire adorava gatos e a eles dedicou famosos poemas e muitas horas de contemplação, sendo criticado por lhes dar mais atenção do que à sua família. Edgar Allan Poe escreveu “O gato preto”, considerado um dos contos mais admirados na literatura universal, em que mostra a dualidade no homem, afetividade e perversidade.

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A lista de escritores que apreciam e escrevem sobre gatos é infinda, e sua imagem marca os textos literários trazendo lições de amizade, sabedoria e inspiração cabalística. A escritora francesa, Colette, costumava dizer: “Cães pensam que são humanos, gatos pensam que são Deus”.

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Na conhecida lenda de Charles Perrault, o gato de botas é a herança recebida pelo filho mais novo de um moleiro, o qual, inicialmente decepcionado, irá perceber que um amigo leal e espirituoso vale muito mais do que as riquezas que poderia ter recebido.

Lewis Carrol eternizou o gato de Cheshire numa personagem sorridente e filosófica que dialoga com Alice no País das Maravilhas, enquanto some e reaparece. É através dele que a menina consegue compreender um pouco do que acontece com ela.

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Além da marcante presença em filmes como Breakfast at Tiffany’s, em que bastava chamá-lo “gato”, a sugestiva figura deste felino permanece “em cartaz” no teatro, em peças como o já histórico musical “Cats”, encenado ininterruptamente há 30 anos, desde sua estréia em Londres, em 1981.

Na literatura brasileira, encontramos diversos exemplares do interesse dos escritores pelos felinos. Machado de Assis declarou: “O gato, que nunca leu Kant, é talvez um animal metafísico”.

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No livro, As horas nuas, Lygia Fagundes Telles dá voz ao gato Rahul. Ele é uma personagem que pensa e traz reflexões sobre o comportamento dos humanos e a memória de um tempo em que acredita ter vivido outras vidas.

O poeta Ferreira Gullar diz ser falsa a ideia de que o gato não gosta do dono: “…ele é apenas mais sutil”.

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Luiz Ruffato, um dos mais celebrados escritores brasileiros da atualidade, é um grande apreciador de gatos. Romancista com obras publicadas em diversas línguas, contista, ensaísta, poeta, jornalista, pesquisador, organizador de diversas antologias e, atualmente, curador da editora portuguesa Babel, Rufatto dá valor aos momentos de tranquilidade que consegue junto aos gatos, enquanto trabalha em seu gabinete.

Segundo Ruffato, os escritores se identificam com os gatos, porque, como eles, esses felinos são introspectivos e amigos do silêncio.

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O “Curiosidades Literárias” recebeu um depoimento do escritor sobre seu relacionamento com os gatos:

“Sempre tive gatos. Em minhas primeiras recordações estou envolvido por gatos. Uma das minhas primeiras apreensões foi o medo de perder uma gata, Pelezinha, que estava em trabalho de parto, e eu, criança, ouvindo seus miados doloridos, sem saber do que se tratava, entrei em pânico… Ao longo da minha vida, sempre estive acompanhado por gatos. Hoje, tenho dois (ou, melhor, sou de dois gatos, porque nós é que pertencemos a eles): Federico Felino e Sky. A minha relação com os gatos se dá primordialmente porque se trata de um animal independente, inteligente e sagaz: como eu queria ser…”

Luiz Ruffato (Texto enviado por e-mail, especial para esta coluna)

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Os gatos são silenciosos e passeiam com passos aveludados observando seus donos enquanto escrevem. Com seu olhar profundo e seus modos discretos, parecem ser a companhia ideal aos autores em processo de criação.

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Autoria: Mires Batista Bender
Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS

Colaboração:
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