Se fosse um cantora, diríamos que depois de alguns discos em conjunto ela inicia carreira solo. Mas a Moema Vilela canta só após algumas cervejas, e não são exatamente músicas de bom gosto (eu sei por que já cantei junto um par de vezes). Por sorte, a Moema, com quem me alterno neste espaço, é das Letras. E ela agora tem até site – moemavilela.com. E também book trailer. Tudo por causa de Ter saudade era bom seu livro de estreia, de contos. Doutoranda em Escrita Criativa na PUCRS, a Moema nasceu no Mato Grosso do Sul, e Ter saudade era bom foi publicado com recursos do Fundo Municipal de Investimentos Culturais de Campo Grande (MS). A seguir ela solta a voz, ou as mãos, para falar de seu primeiro livro solo.
O que orientou a reunião dos dezesseis contos do livro?
Eu tinha um volume grande de contos finalizados e inéditos, mas, dos que eu realmente gostava, reparei que envolviam um certo convite ao leitor – ou seria convocação mesmo? – de reconstruir as tramas, as relações entre os personagens, os fatos acontecidos. Reparei que muitas narrativas traziam isso, surpresas que iam se revelando ao longo das páginas, relações nunca apresentadas de imediato. Observando essa recorrência, procurei juntar contos em que o desvelamento tinha uma função diferente, acontecia de maneira diferente. Outro princípio da composição do livro foi reunir uma certa diversidade de narradores, temáticas, modos de compor o conto. Gosto disso no conto, dessa possibilidade de fundar universos distintos em tão pouco espaço e tempo, que também logo podem ser desfeitos e dar lugar a novos personagens, com outros conflitos, novas experiências de linguagem. Selecionei contos escritos principalmente entre 2010 e 2013, mas usei também dois de produção anterior, um deles realmente muito antigo, cuja primeira versão escrevi quando era adolescente, mas que achei que fazia parte de uma poética para o livro. Dessa época, da década de 1990 ainda, foi o único que se salvou da fogueira. Ou da lixeira, sendo menos dramática e ecoando uma poeta que admiro muitíssimo, a Wislawa Szymborska, que disse que não publicava mais porque tinha em casa um recipiente dessa natureza…
Foram criados outros materiais em torno do livro que você divulgou em um site, incluindo um book trailer…
Na hora de fazer o roteiro para um book trailer, pensei se deveria escolher um dos contos para representar, ou se devia apenas ler um trecho e divulgar o lançamento, algo mais simples. Pensei em muitas opções. Acho que, até por um interesse pessoal por audiovisual e outras mídias, a brincadeira foi mais longe. O book trailer virou uma história nova, mas inspirada em um conto-chave do livro, o conto que dá título ao livro inclusive, e reunindo imagens e objetos presentes em outros contos. Há o café, a música do Cartola, o cachorro deveria ser um São-Bernardo, mas o São-Bernardo que eu conhecia morreu um pouco antes da filmagem, foi substituído por outro companheiro amado de um dos meus amigos. A produção foi toda feita entre amigos, aliás. Outro vídeo que aconteceu por causa do livro e tem uma amiga por trás foi o Jabuticabas pretas e más, que era um dos contos preferidos da designer, que criou a capa e o projeto gráfico do Ter saudade era bom. Super talentosa, ela também é bailarina, e decidiu fazer, de surpresa, uma videodança inspirada no conto. Tudo isso está no site, para quem quiser conhecer. Aproveito para divulgar: moemavilela.com.
- Autoria: Moema Vilela
- Doutoranda da Faculdade de Letras / PUCRS
Faculdade de Letras / PUCRS