Por onde anda Pynchon?

Pynchon em participação nos Simpsons

Ninguém sabe, ninguém viu. Esse ditado pode ser clichê – soa até como título para música do Ultraje a Rigor –, mas, no caso de Thomas Pynchon, é uma verdade atroz: recluso há décadas, o escritor norte-americano se tornou o maior enigma da literatura mundial, um quebra-cabeça infinito. Ninguém conhece o seu rosto hoje, se ele está bem de saúde ou não, seu paradeiro atual é desconhecido, há quem garanta que ele já morreu.

De verdade, o que se sabe sobre ele? Pouco. Dizem que Pynchon nasceu em 1937, em Long Island, filho de uma família de longa linhagem, cujas origens se estabeleceram séculos antes. Estudou Engenharia Física por pouco mais de um ano na universidade de Cornell. Serviu a Marinha e trabalhou na Boeing, onde escreveu para o jornal técnico interno. Morou em Seattle, na Califórnia, no México e em Nova Iorque. Supostamente teve aulas de literatura com Nabokov. Ganhou o National Book Award, em 1974, por O arco-íris da gravidade, também escolhido para o Pulitzer de ficção daquele ano, embora rejeitado pela comissão geral do prêmio. Casou-se com Melanie Jackson, sua agente literária, e é pai de um filho. Publicou oito romances. O resto é lenda. E galhofa.

Em 1976, por exemplo, quando Salinger, outro famoso ermitão literário, ainda era vivo, o jornal Soho Weekly News chegou a publicar um artigo no qual John Calvin Batchelor afirmava ter certeza que os dois eram a mesma pessoa. Pynchon respondeu, através de cartas: “nada mal, continuem tentando”. Em 2004, por outro lado, Pynchon foi retratado, e “se dublou” a pedido do filho, em um episódio dos Simpsons. Chamado Diatribe de uma Louca Dona de Casa, o episódio mostrava o escritor com um saco de papel na cabeça, em frente a um letreiro luminoso onde se lia casa de Thomas Pynchon, entre, respondendo, aos berros, a um pedido de Marge por uma recomendação dele na capa do livro dela: “Aqui está sua citação”, ele diz, “Thomas Pynchon amou este livro, quase tanto quanto ele ama câmeras”.

A polêmica mais recente é a sua suposta aparição em Vício Inerente, filme de Paul Thomas Anderson, primeira adaptação da obra de Pynchon para o cinema. Josh Brolin, um dos atores principais do elenco, garantiu ao New York Times que Pynchon está lá. O diretor desconversa. Não faltam teorias pela internet sobre o autor ser o personagem X, Y ou Z. De certo mesmo, apenas o trailer do filme, ainda em 2009, narrado pelo próprio Thomas Ruggles Pynchon. Quer dizer, falam por aí que a voz do trailer é a voz do autor, mas ninguém sabe, né? Ninguém viu.

Autoria: Davi Boaventura
Doutorando da Faculdade de Letras / PUCRS
Colaboração:
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