A morte de Euclides da Cunha e o diário de Anna de Assis

A história familiar de Euclides da Cunha (1866 – 1909) é conhecida pela tragicidade. O autor de Os sertões foi morto pelo militar Dilermando de Assis, amante da mulher de Euclides da Cunha, Anna Emília Ribeiro de Assis. A cena foi dramatizada em minisséries brasileiras como Desejo, da TV Globo, que reproduziam a versão de que Euclides da Cunha, ele próprio primeiro-tenente do exército, havia surpreendido a esposa com Dilermando de Assis e, no enfrentamento, foi morto a tiros. Sete anos depois, o filho de Euclides da Cunha tentou matar Dilermando para vingar o pai e também acabou morto.

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Você me dá sua palavra?

Depois da detenção de um prefeito em Macapá, onde Élida Tessler tinha sido convidada para participar de um evento cultural, a artista encontrou o centro cultural fechado, os funcionários que a contataram todos ocupados com a situação política. O evento não podia mais ser realizado conforme tinha sido planejado. Para o motorista de taxi que a buscou no aeroporto, Élida Tessler perguntou por que o prefeito tinha sido preso. “Ele faltou com a palavra”, disse o homem. Ela foi até um atacado e voltou munida dos prendedores de roupa com que começou a obra Você me dá a sua palavra? Nela, a artista pede para que o interlocutor escreva, num prendedor de roupas de madeira, uma palavra de sua língua materna. As palavras são expostas em um único fio, que já exibiu suas memórias por Porto Alegre, Vitória, Petrópolis, São Paulo, Porto, Paris, Melbourne, Santiago do Chile, Umbertide, entre outras palavras que se chamam cidades.

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Lembranças do Brasil em cartões postais

Livro Lembranças do Brasil

Houve uma “Época de Ouro” do cartão-postal, quando era moda trocá-los. Os postais eram concebidos como peças artísticas. As cidades retratadas também passavam por ambiciosos processos de modernização nos quais, no entanto, a estética superava a funcionalidade. Tal período é retratado em Lembranças do Brasil, de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo (Editora Solaris).

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Você seria amigo de Humbert Humbert?

Cena do filme Lolita com Humbert Humbert

Em abril desse ano, uma reação da escritora Claire Messud iniciou uma discussão sobre a aprazibilidade dos personagens de ficção. Na divulgação de um novo romance, The Woman Upstairs, Messud foi questionada pelo Publisher Weekly se ela gostaria de ser amiga de Nora, sua protagonista aparentemente controlada e agradável no exterior, mas bastante raivosa na intimidade. A pergunta foi feita após a declaração de que a entrevistadora não gostaria, e Messud respondeu com ênfase:

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Uma coluna com portas de geladeira

Gosto de pensar no grupo de pesquisa Limiares Comparatistas e Diásporas Disciplinares: Estudo de Paisagens Identitárias na Contemporaneidade como os cavaleiros da távola retangular. Que se reúnem ao cair da tarde de sexta-feira para discutir literatura. Que nos abre outros horizontes, enquanto o horizonte (estamos no sétimo andar da biblioteca) também nos seduz. Principalmente agora, que é outono.

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Do balcão do bar para a livraria

Depois de muitos guardanapos preenchidos no Café Lamas, bar e restaurante tradicional do Flamengo, no Rio de Janeiro, o jovem publicitário Pedro Gabriel Antônio Anhorn criou uma página no Facebook para compartilhá-los com os seguidores, em 2012. Escritos, rabiscados ou desenhados com caneta esferográfica, os guardanapos de Pedro Gabriel chamaram tanta atenção na rede que uma editora resolveu publicá-los. O livro “Eu me chamo Antônio”, lançado em 2013, propõe ao leitor que acompanhe a narrativa do personagem Antônio em uma sequencia de mensagens de conquistas, encantamentos, paixão, conflitos, sofrimentos, perdas, esperanças.

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Os escritores e seus estilhaços

Autores e suas obras podem ser cachorros cinzentos com uma estrela na testa que irrompem pelos becos do mercado (no primeiro domingo de dezembro), reviram mesas de frituras, derrubam barraquinhas de índios e toldos de loterias, e de passagem mordem pessoas pelo caminho. Era o caso de Rodolfo Walsh, sobre quem falei num evento na PUCRS e sobre o qual seria esse texto. Também era o caso de Gabriel García Márquez, a quem precisava citar, vocês sabem a triste razão, e a quem parodio aproveitando a abertura de Do amor e outros demônios.

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